quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A soberania de Deus em xeque!

Agora é um argumentador de alto nível teológico, talvez o ouçam. Fiz alguns destaques. Especial atenção para a parte em azul. Nossos exegetas e expositores, como eu cansei de dizer, não estão sendo honestos.




A SOBERANIA DE DEUS EM XEQUE

Análise do 'interdito bíblico' ao chamado divino de mulheres para o ministério pastoral batista brasileiro

Josué Mello Salgado, Th.D.

"Quem guiou o Espírito do Senhor, ou como seu conselheiro o ensinou?" Isaías 40:13.

"Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu alguma coisa, para que Ele lhe recompense? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém." Romanos 11:36.

Assim diz O Senhor: "Eu sou o SENHOR; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei," Isaías 42.8

I) CHAMADO DEPOIS CONSAGRAÇÃO E SÓ DEPOIS FILIAÇÃO
Diz a Escritura Sagrada que "Foi Ele que designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres" (Efésios 4:11). Em Mateus 9:36-38 lemos que Jesus vendo "as multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara". O que Jesus diz é que o nosso dever é rogar e a prerrogativa exclusiva do Senhor da seara é mandar trabalhadores. Nós pedimos, mas é Ele quem manda! E, para mandar Ele primeiro chama!

A Declaração Doutrinária da CBB se coaduna com essa compreensão bíblica e afirma em seu capítulo sobre o Ministério da Palavra: “Todos os crentes foram chamados por Deus para a salvação, para o serviço cristão, para testemunhar de Jesus Cristo e promover o Seu reino, na medida dos talentos e dos dons concedidos pelo Espírito Santo. Entretanto, Deus escolhe, chama e separa certos homens, de maneira especial, para o serviço distinto, definido e singular do ministério da Sua Palavra (,,,) Quando um homem convertido dá evidências de ter sido chamado e separado por Deus para esse ministério, e de possuir as qualificações estipuladas pelas Escrituras para o seu exercício, cabe à igreja local a responsabilidade de separá-lo, formal e publicamente, em reconhecimento da vocação divina já existente e verificada em sua experiência cristã” (PACTO E COMUNHÃO. Rio de Janeiro: Convicção, 2010, p. 26 – XI – Ministério da Palavra).

Na Bíblia, na língua portuguesa, e mesmo na Declaração Doutrinária da CBB (conf. p.ex. cap. III - O Homem, pg. 18), o substantivo masculino “homem” é também usado para se referir ao ser humano, independente do gênero, masculino ou feminino (Deus só criou esses dois gêneros!).

Antes de falar de filiação ou não de mulheres pastoras à OPBB, precisamos falar de consagração. E antes de falar de consagração ou não de mulheres ao ministério pastoral batista precisamos falar de chamada. Muitos dos debates atuais tratam apenas da questão secundária da filiação ou não à OPBB. De certo modo esta abordagem está correta, tendo em vista que nós os batistas cremos que cabe à igreja local a responsabilidade de separar, formal e publicamente, uma pessoa que dê evidências de ter sido chamada e separada por Deus para esse ministério, e de possuir as qualificações estipuladas pelas Escrituras para o seu exercício (vide a Declaração Doutrinária). Consagração ao ministério é prerrogativa da igreja local. Filiação à OPBB é prerrogativa das plenárias da OPBB. Mas chamada é prerrogativa exclusivamente divina! Nós os batistas cremos na afirmação bíblica da prerrogativa exclusiva de Deus quanto a autoridade para chamar quem quer e quando quer. Afinal, a Escritura registra a afirmação divina contundente: "Desde toda a eternidade, Eu o Sou; e não há nada nem ninguém que possa fazer escapar algo ou alguém das minhas mãos. Agindo eu, quem impedirá?" (Isaías 43:13). Se Deus resolve chamar uma pessoa para o ministério, "quem impedirá?" Ou ainda, quem tem autoridade para impedir? Não estaria "combatendo contra Deus" (Atos 5:39) alguém que tenta impedir a ação divina de chamar? Penso que sim!

Quando estamos tratando de chamada divina para o ministério pastoral, estamos pisando em "terra santa", eis que esta não tem definição geográfica, mas teológica. A ‘terra santa’ não é idêntica à terra de Israel, mas ‘terra santa’ é o lugar onde Deus fala, o ser humano ouve e responde positivamente (Êxodo 3:5). Se assim é, a única atitude coerente é a de descalçarmos os nossos pés, desarmarmos o nosso espírito e nos esvaziarmos de qualquer pretensão de usurparmos uma autoridade que só a Ele pertence.
Assim é que me propus a refletir não sobre filiação à OPBB, nem de consagração pela igreja local, mas de chamada divina, temendo e tremendo, eis que estou pisando em ‘terra santa’!

II) INTERDITO BÍBLICO AO CHAMADO DIVINO DE MULHERES PARA O MINISTÉRIO PASTORAL BATISTA BRASILEIRO?
Nos séculos XVII e XVIII surgiu no seio da Igreja Católica Romana um movimento chamado Jansenismo com nítido parentesco com uma leitura extremada da posição de Agostinho, que exalta o primado da Graça sobre o mérito humano (em contraposição aos pelagianos) e que influenciou os reformadores. Essa escola teológica surgida com Cornelius Otto Jansen (1585-1638) tomou por assim dizer o aspecto de protestantismo dentro da Igreja Católica. Em contrapartida a uma antropologia pessimista o jansenismo defendia a soberania absoluta de Deus. Em 1727 faleceu um diácono (no sentido católico) jansenista e teólogo muito amado principalmente pelos pobres chamado François de Pâris (1690-1727). Ele foi sepultado no cemitério de Saint-Médard e em torno do seu túmulo surgiram rumores de fenômenos sobrenaturais, como curas milagrosas. Logo surgiram multidões de peregrinos. Os jansenistas vinham ao cemitério de Saint-Médard para orar e passaram a usar os testemunhos de tais fenômenos milagrosos como sinais do céu em apoio a sua luta dogmática, moral e disciplinar contra o Papa, a Bula Unigenitus – que em 1713 condenava os jansenistas, e os Bispos. Os devotos que iam rezar junto ao túmulo, afirmavam que lá se produziam milagres, visões e êxtases, as curas eram obtidas por meio de convulsões em torno do túmulo. Os fenômenos deram origem aos chamados 'Convulsionários de Saint-Médard', uma espécie de pentecostalismo. Pelo menos 800 pessoas teriam sido curadas pelas convulsões de 1731, entre elas várias pessoas de destaque. No entanto, vários escritores acreditam que os eventos extraordinários no cemitério foram muito exagerados. Milagres e êxtase não era novidade naqueles tempos, mas milhares se convertiam ao jansenismo, o que causou insatisfação por parte das autoridades eclesiásticas e políticas. O Rei Louis XV determinou o fechamento do cemitério em 27 de janeiro de 1732. Um humorista escreveu nos novos muros do cemitério:

"Por ordem do Rei, Deus está proibido de fazer milagres neste lugar".

Para combater a adesão a uma visão doutrinária diversa da ‘oficial’, o rei Louis XV tentou vetar uma atividade divina; a de realizar milagres. Ouvi essa história pela primeira vez por Reis Pereira, pregando na Igreja Batista do IBES em Vila Velha (ES). A história me faz perguntar, por analogia, se é legítimo que afirmemos que "por ordem bíblica - ou de uma interpretação bíblica particular - Deus está proibido de chamar mulheres para o exercício do ministério pastoral batista"? Minha convicção bíblico-teológica e batista-doutrinária sobre a soberania de Deus me impede de colocar em xeque a soberania de Deus em matéria de chamado para o ministério pastoral; ainda que com a Bíblia na mão! Afinal: "O Vento divino sopra onde quer" (João 3:8).

O Evangelho registra uma controvérsia entre Nicodemos e os principais sacerdotes e escribas sobre a pessoa de Jesus Cristo em João 7:40-53. A controvérsia inicia quando alguns dentre o povo diziam: "Verdadeiramente este é o profeta" (vs.40), outros diziam: "Este é o Cristo" (vs.41). Ainda outros, dentre os quais os principais sacerdotes e fariseus perguntavam céticos e cheios de preconceito: "Vem, pois, o Cristo da Galiléia?"(vs. 41). Os líderes religiosos contestam a multidão crente: "Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita"(vs.49). Surge então Nicodemos, que conhecia bem a lei de Deus, dizendo: "A nossa lei, porventura, julga um homem sem primeiro ouvi-lo e ter conhecimento do que ele faz?" (vs.51). Não deve haver dúvidas de que Nicodemos remetia principalmente às Escrituras Sagradas ao falar da 'nossa lei'. Deuteronômio 1:16s; 17:4; 19:15 falam desse 'direito' bíblico. A réplica dos principais sacerdotes e escribas é absurdamente usurpadora da autoridade divina: "És tu também da Galiléia? Examina e vê que da Galiléia não surge profeta" (vs.52). Eles tentaram negar que Jesus era o Messias usando a própria Bíblia. O que fica óbvio é: a) o pressuposto de seu dogma era preconceituoso contra galileus, b) o interdito era inverídico e mostrava desconhecimento ou omissão de ter já havido profetas da Galiléia, por exemplo Jonas (2 Reis 14:25), c) o interdito era inverídico e revelava desconhecimento de ter Jesus nascido em Belém, na Judéia, ali há apenas 10 kms de Jerusalém. Ele apenas crescera na Galiléia. O que, entretanto mais chama a atenção é terem colocado a identidade de Cristo em xeque; com a Bíblia na mão! "O Dogma escrito aprendido tornou-os cegos para a revelação salvífica de Deus em Jesus" (Johannes Schneider. Das Evangelium nach Johannes. (Theologischer Handkommentar zum Neuen Testament, 4). – Berlin: Evangelische Verlagsanstalt, 1988, S. 172) . "Esses indivíduos que conheciam muito bem as palavras das Escrituras, eram incapazes de ouvir a voz de Deus. Possuíam conhecimento amplo e meticuloso do texto. Eles reverenciavam as Escrituras. Eles as memorizavam. Usavam-nas para regular cada detalhe da vida. ...eles estudavam a Palavra, mas não a ouviam! Para eles, as Escrituras haviam se tornado um fim em si mesmas; deixaram de ser um meio de ouvir a Deus. (...) A tinta havia se transformado em fluido de embalsamamento" (Eugene H. Peterson. Trovão Inverso: O Livro do Apocalipse e a Oração Imaginativa. – Rio de Janeiro: Habacuc Editora (Danprewan), 2005, pg. 18).

Tais exemplos colocam em questão não tanto a autoridade das Escrituras, mas o seu caráter, sua natureza, e a relação dela com Deus. Eugene Peterson afirma que "A Escritura é a Palavra de Deus a nós, e não uma coleção de Palavras humanas sobre Ele". Um exemplo simples: A Bíblia nos proíbe de matar o semelhante: "Então, falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não matarás" (Êxodo 20:1-2, 13). Esse mandamento é normativo para nós, não há dúvidas. É explícito e claro, como um dia ensolarado. Mas a Bíblia não é normativa para Deus e nem o pode ser, visto ser ele O Senhor absoluto, por isso podemos encontrar na Bíblia muitos textos como este: "E aconteceu no caminho, numa estalagem, que o Senhor o encontrou, e o quis matar" (Êxodo 4:24). O mandamento de não matar não vale para Deus! Ainda que a Bíblia explicitamente interditasse o chamado de mulheres para exercitarem o ministério pastoral batista - e estou convencido de que ela não o faz - ainda assim, não teríamos qualquer autorização de, com a Bíblia na mão, interditar uma prerrogativa que é divina, isto é chamar quem Ele quer. Repito, ainda que houvesse na Bíblia um único texto bíblico explícito dizendo algo mais ou menos assim: "não consagrarás mulheres ao ministério pastoral nem as filiarás às tuas associações de classe", esse texto não impediria Deus de chamar mulheres para o ministério pastoral, pois que chamada é prerrogativa divina e a Bíblia é norma para nós, é Palavra de Deus a nós, e não palavras humanas sobre e para Deus.

Em suma, a nós não nos compete questionar o Pai quanto às suas decisões quanto a chamada para o ministério pastoral (conf. Atos 1:8). Deus é soberano, chama quem quer, quando quer, para o que quer e coloca onde Ele mesmo quer! Deus não nos deu a Sua Glória! (Isaías 42:8)

III) ACEPÇÃO DIVINA DE GÊNERO À VOCAÇÃO MINISTERIAL?
E, contudo levanta-se a pergunta se Deus revelou nas Escrituras de forma clara e inequívoca se Ele chama ou não mulheres para o ministério pastoral. Estou convencido de que não há nenhum texto bíblico onde explicitamente Deus revela sua vontade quanto a algum tipo de definição de gênero como pré-requisito para o exercício do ministério pastoral e que desse modo direcionaria o chamado divino apenas para o gênero masculino. Então a pergunta passa pela chave hermenêutica que usamos para interpretar a Bíblia, em possíveis evidências implícitas. É possível observar na fundamentação bíblica das posições controversas duas “escolas” ou tipologias de argumentação: “taborismo” e “utraquismo”. Sobre isso escrevi um artigo chamado “Consagração Feminina: Por que pensamos como pensamos? Apenas em resumo: De tendência taborita alguns crêem que a Bíblia não autoriza de forma expressa, i.é., ipsis literis a consagração de mulheres ao ministério pastoral, portanto a consagração deve ser rejeitada. Por outro lado uma hermenêutica bíblica utraquista parte do pressuposto e da chave interpretativa que a Bíblia não proíbe expressamente a consagração de mulheres para o exercício do ministério pastoral, sendo, portanto autorizada.

Lembro mais uma vez que estamos entrando em ‘terra santa’ pois a pergunta pivotal não é se podemos ou não consagrar, mas se Deus chama ou não! Obviamente caso a Bíblia afirmasse categoricamente que Deus não chama mulheres, teríamos que concluir que, Ele claramente não chama mulheres para o ministério pastoral!

Examino ligeiramente quatro argumentos usados por alguns, que apontariam implicitamente para um interdito à consagração e filiação associativa, por insinuarem certa acepção divina no chamado.

Antes uma palavra sobre um argumento ao meu ver absolutamente incompreensível e que vem sendo utilizado por muitos. É o caso de tentar associar uma possível aceitação de mulheres no ministério pastoral como uma brecha para aceitação de homossexuais no ministério. É óbvio que Deus não chama homossexuais para o ministério, pela simples razão de que ele não criou um terceiro, quarto, quinto gênero. Deus criou homem e mulher, diz a Bíblia. Além disso, a Bíblia afirma categoricamente que “do Céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça” (Romanos 1:18). Mais adiante a Bíblia explicita uma dessas impiedades e injustiças: “Pelo que Deus os entregou a paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural no que é contrário à natureza; semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu erro” (vs. 26-27). Deus usa vasos imperfeitos, mas não vasos sujos! Esse tipo de argumento é absolutamente inaceitável, visto que a mulher não foi ‘nascida em pecado’ (João 9:34) e nem está em pecado, por ser mulher.

IV) O ARGUMENTO DA FUNÇÃO DA MULHER COMO ADJUTORA
Gênesis 2:18 - “Disse mais o Senhor Deus: não é bom que a pessoa seja só; far-lhe-ei um socorro que lhe corresponda como uma imagem do outro lado do espelho” (tradução livre). O foco do texto em epígrafe é claramente a humanidade, o ser humano genérico! Esta interpretação é evidente, tendo em vista o uso do termo hebraico adam para designar homem, abrangendo ambos os gêneros, em preferência a zakar (Gênesis 1. 27) ou iysh (Gênesis 2. 23) ambos usados exclusivamente para designar homem, gênero masculino. O termo adam ao lado de enosh (Salmo 8. 4) é, preferencialmente, termo designativo de ambos os gêneros (homem e mulher) como fica claro em Gênesis 5:1-2: "Este é o livro das gerações de Adão (adam). No dia em que Deus criou o homem (adam), à semelhança de Deus o fez. Homem (zakar) e mulher (naqebah) os criou; e os abençoou e chamou o seu nome homem (adam), no dia em que foram criados." Em suma: a humanidade, o ser humano, a pessoa humana (adam) pode ser macho (zakar) ou fêmea (naqebah); mais claro é impossível! Não é sem razão que a Bíblia judaica traduz o texto de Gênesis 2:18 assim: "Adonai, Deus, disse: Não é bom que a pessoa fique só." (Bíblia Judaica Completa: O Tanakh (AT) e a B’rit Hadashah (NT). – São Paulo: Editora Vida, 2010). Posteriormente adam passou a ser também o nome próprio do primeiro homem: Adão. Tal compreensão é fundamental para entendermos que o Deus revelado nas Escrituras não é machista e nem feminista. Ele não concentra sua atenção e preocupação sobre apenas um dos dois gêneros. Ele tem propósitos para ambos, e ambos são iguais em dignidade e essencialidade diante dEle e alvo do Seu incondicional amor e cuidado. Ambos são também “por um pouco, menor do que Deus” coroados por Ele “de glória e de honra” (Salmo 8.4). Além disso são igualmente instrumentos úteis nas mãos de Deus; há portanto uma igualdade essencial e funcional entre homem e mulher. Curto: Deus não é ginófobo! O ser humano criado é, no referido texto, alvo de um (auto) diagnóstico divino: “não é bom que o ser humano viva só”! Para Deus um ser humano que vive só, alimenta-se só, trabalha só, se diverte só, decide só e que articula sua abordagem do mundo só, sem interlocutor ou contraponto, está aquém do ideal e do projeto divino. O ser humano que vive portando-se como senhor absoluto da verdade, sem aceitar a convivência com outro como interlocutor e contraponto, preferindo o monólogo e não o diálogo, vive só! Na verdade o primeiro “não é bom” da história humana não foi direcionado ao ser humano criado por Deus, mas à existência solitária! A fim de suprir tal “existência solitária” – e há muitos que vivem assim, mesmo rodeados de uma multidão – Deus providencia a Sua solução: um socorro que lhe corresponda como uma imagem do outro lado do espelho” (hebr. etzer kenegdô).

A expressão hebraica ETZER, traduzida como adjutora (ARC), ajudadora (ACF, BRP), auxiliadora (ARA) ou popularmente auxiliadora, ocorre 109 vezes no AT, em 102 versos, com 55 formas diferentes. O texto mais paradigmático do uso de etzer é com certeza I Samuel 7: 12: “Então, tomou Samuel uma pedra, e a pôs entre Mispa e Sem, e chamou o seu nome Ebenézer (hebr. eben-ha-etzer = pedra de auxílio) e disse: Até aqui nos ajudou o SENHOR. A forma de etzer no texto de Gênesis 2:18 é do substantivo comum masculino singular absoluto homônimo, e assim aparece 21 vezes no AT. Das 21 vezes, 4 são usadas para o ser humano, 10 para Deus, 6 abstrato ou comum e 1 vez é indefinida. A Versão Corrigida “Fiel” da Sociedade Trinitariana traduz o substantivo masculino singular ETZER de 5 maneiras: ajudadora (2), ajuda (3), socorro (9), auxílio (7) e ajudador (1). O curioso é que a tradução “ajudadora” só ocorre duas vezes, exatamente em Gênesis 2:18 e 20. Minha observação pessoal é que “ajudadora” é uma tradução que dá a idéia de subalternação, de ser a pessoa subalterna e mera coadjuvante, e que a tradução “por socorro” é mais fiel ao original substantivo masculino singular. Bem nos lembrou o nosso Luiz Sayão, especialista em hebraico, na Assembleia em João Pessoa, que o termo etzer é largamente utilizado para se referir a Deus, portanto uma tradução de etzer que imponha o desempenho de uma função ou papel meramente secundário e coadjuvante não é adequada. Melhor mesmo é pensar em ‘socorro’. Deus providenciou um socorro para o ser humano sozinho e solitário. Tenho uma mensagem baseada neste texto que intitulei de ‘Marias do Socorro’.

A idéia do texto é que o homem só estava em apuros e precisava de um socorro, providenciado por Deus, como diz o Salmo 89:19 - "Pus o socorro sobre um". O livro de Eclesiastes apresenta esse socorro através do outro (4:9-12). Assim ETZER tem o sentido de auxílio, ajuda e socorro, não como inferior ou subalterno, mas exatamente ao contrário, no sentido de estar em condições de auxiliar, ajudar e socorrer quem precisa e está em situação de desvantagem, por estar sozinho (conf. II Reis 14. 26, Jó 29. 12, Salmo 30. 10, Salmo 54. 4, Salmo 72. 12). O ser humano só “estava em desvantagem e precisava de alguém que o ajudasse, o socorresse, quem o auxiliasse a viver melhor.” O outro, homem e/ou mulher, são para nós esse socorro divino para nos ajudar a não mais vivermos sós! Neste sentido eles são para nós representantes do Deus chamado largamente na Bíblia de Auxílio (ETZER). O Salmista orou: “Ouve, SENHOR, e tem misericórdia de mim; SENHOR, sê tu o meu Socorro (ETZER)” (Psa 30:10 AKJ). Assim cumpre-se a palavra divina: “Um ao outro ajudou e ao seu companheiro disse: Esforça-te!” (Isa 41:6 ARC). Expressivas são as traduções da NVI e da King James Atualizada: “alguém que o auxilie e lhe corresponda” e “alguém que o ajude e a ele corresponda”.

Finalmente este socorro providenciado por Deus é qui nagad (na frente de, diante de, à frente de, em frente de). A idéia é a de um espelho no qual, ao se olhar, o ser humano vê do outro lado, outro ser humano semelhante. O homem não pôde encontrar esse outro semelhante entre os animais (Gênesis 2. 20) por isso o outro será chamado “osso dos ossos” e “carne da carne”. É da mesma matéria-prima! Ninguém precisa mais viver sozinho! Ninguém deve viver mais sozinho! Por isso Deus oferece no outro, cônjuge, irmão, irmã, pai, mãe, parente, amigo, amiga, semelhante, um socorro como companhia e/ou contraponto olhado no outro lado do espelho da vida. Por isso, “Deus faz que o solitário viva em família” (Salmo 68. 6), inclusive na família de Deus, a Igreja. Homens e mulheres não são idênticos, como nenhum ser humano é idêntico a outro ser humano. Mas Homens e mulheres são iguais em dignidade diante de Deus. Homens e mulheres compartilham da igualdade tanto ontológica, quanto funcional. Ambos foram criados também para serem socorro e auxílio para o outro!

É preciso lembrar que a subalternação da mulher em relação ao homem não é fruto da teologia da criação, mas da teologia da queda. "E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição; em dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará" (Gênesis 3:16). Ao invés de fundamentarmos a nossa teologia sobre a mulher no pós-queda, deveríamos fundamentá-la no pré-queda, e afirmar o absoluto poder do Evangelho em superar as consequências danosas da queda. Foi assim que Jesus fez quando tratou da banalização do casamento; Ele insistiu, “não foi assim desde o princípio” (Mateus 19:4, 8).
Fundamentar um possível interdito bíblico ao chamado divino de mulheres para o ministério pastoral na base da função de auxílio e socorro atribuía equivocadamente apenas a mulheres não me parece uma boa prática exegética e hermenêutica.

V) O ARGUMENTO DA SUBMISSÃO DEVIDA DE ESPOSAS
Efésios 5:22 – “Vós, mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao Senhor;” (ARV). Fundamental para a compreensão desse texto é inicialmente lembrar que a divisão da Bíblia em capítulos e versículos é tardia: século XIII d.C. para a divisão em capítulos; séculos IX e X d.C. para a divisão do AT em versículos pelos massoretas. 1551 d.C. para o Novo Testamento. Isso significa que esse versículo não pode ser lido à parte do todo. É preciso lembrar também que os títulos separando parágrafos (assuntos) não são inspirados, e por isso variam bastante. A Bíblia de Jerusalém, por exemplo, apresenta sua divisão de parágrafo à partir do versículo 21 com o título moral doméstica. Com isso o vs. 22 era contínuo com o vs. 21, originalmente: “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Além do mais o verbo hupo-tasso – sujeitar, não aparece no vs. 22, só no 21. A leitura contínua seria assim: “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. Vós, mulheres, a vossos maridos, como ao Senhor...” A chave hermenêutica também da segunda parte da epístola que começa no cap. 4 e trata do andar digno conforme a vocação com que todos nós, crentes, homens e mulheres, fomos chamados, e de modo específico do cap. 5:21 até o capt. 6:9 não pode, ao meu ver, ser a de papeis. A expressão papeis não se encontra no texto bíblico, portanto é apenas uma interpretação e não Revelação. Foi o taylorismo que inventou a idéia de papeis ou funções bem definidas para o bom funcionamento de uma empresa ou organização. O taylorismo é o modelo de administração caracterizado pela ênfase na divisão de funções, tarefas ou papéis objetivando o aumento da eficiência. Para funcionar bem uma empresa ou organização deve ter uma divisão de papéis bem clara e específica. Aplicado à moral conjugal significaria que o papel específico da esposa (não estamos falando em papel da mulher, mas da esposa) seria ser submissa ao marido, e, tal papel jamais seria do esposo. Por outro lado o papel específico do marido seria amar a sua esposa, e, tal papel jamais seria também da esposa! Não creio que a Bíblia ensina isso!

Ao invés dessa chave hermenêutica eu prefiro pensar que Paulo propõe uma nova relação entre esposas e esposos, pais e filhos, escravos e senhores diferente daquela vivida na sociedade de então. No versículo 21 Paulo traria a lei geral, ampla e irrestrita para todos os cristãos: “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. O princípio das relações na nova sociedade criada em Cristo é o da mutualidade, não da exclusividade. Note que o texto não estabelece nenhuma discriminação a partir de gênero. Tanto assim que vai concluir dizendo: “para com ele (o Senhor do Céu) não há acepção de pessoas” (6:9). A relação entre escravos e senhores é a mais explícita dentro desse princípio da mutualidade e não exclusividade: “E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles”!

O que entendo desse texto é que Paulo começa a exemplificar a sujeição mútua cristã, com as esposas. Elas devem se sujeitar aos maridos. É preciso lembrar que sujeitar (gr. hupo-tasso) não significa estar debaixo da ordem, no sentido de comando, mas da ordem, no sentido de organização, disposição divina. Hupotasso significa em primeiro plano, não simplesmente obedecer ou fazer a vontade de alguém, mas perder ou renunciar o próprio direito respectivamente a própria vontade. Tasso também significa dedicação, devoção. Ao dizer isso às esposas Paulo não apresenta nenhuma novidade para aquela sociedade da segunda metade do primeiro século, na grande e rica cidade de Éfeso. Naquele tempo esposos, pais e senhores de escravos detinham todo o poder e direito sobre as esposas, filhos e escravos. Não havia deveres deles para com esposas, filhos e escravos. Mulheres deviam obedecer a seus maridos. Maridos deviam mandar (esses eram os ‘papéis’ de cada um!). O que há não apenas de novo, mas de revolucionário é que Paulo diz que elas deviam fazer isso, “como ao Senhor”.

Então Paulo escandaliza porque ele passa a exemplificar a sujeição mútua do vs. 21 aplicando-a também a esposos! O que? Esposos também precisam praticar a mutualidade de sujeição? Sim, é o que Paulo diz! Eles fazem isso amando. E quem não diria que o amor que “não se impõe sobre os outros”, que “não age na base do ‘eu primeiro’, e que “tudo suporta” não é um amor sujeito ao outro (conf. 1 Cor. 13)? Outra verdade! Naquela época não havia a compreensão de que maridos deviam amar as suas esposas! Esposas existiam para gerarem e cuidarem dos filhos, não para serem amadas. Amadas podiam ser as meretrizes, lá na ‘casa do amor’ perto da ‘Biblioteca de Celso’, interligadas estrategicamente por um túnel para garantir a privacidade! E mais, o amor que se praticava lá na casa do amor era o eros, e este é o amor que busca ter para si o objeto desejado. Paulo escandaliza não somente ao dizer que esposos tinham deveres também e não só direitos sobre as esposas, ele também o faz ao dizer que eles deviam amar suas esposas; não as meretrizes; mais ainda, ele o faz ao dizer que o amor não era o eros, mas o ágape. Para que não houvesse dúvidas, ele explica, o amor ágape não é aquele amor que busca ter para si o objeto desejado, mas que se entrega pela amada!

Fundamentar um possível interdito bíblico ao chamado divino de mulheres para o ministério pastoral na base da sujeição exigida das esposas em relação aos seus maridos não me parece uma boa prática exegética e hermenêutica. O texto não fala de sujeição de mulheres a homens, mas de sujeição de esposas aos esposos. O texto não fala apenas de sujeição de esposas a esposos, fala também da mútua sujeição, porque para com Deus não há acepção de pessoas!

VI) O ARGUMENTO LITERALISTA SEMÂNTICO
A tentativa de encontrar sanção bíblica expressa para a rejeição esbarra na ausência de textos explícitos, sim de aprovação, mas também de recusa. Passa-se então a adotar uma interpretação literalista fundamentada no uso dos artigos definidos masculinos e na ausência de artigos definidos femininos. O problema é que a expressão “pastor” só aparece uma única vez em todo o novo testamento (no plural) se referindo aos líderes de igreja (Ef. 4.11 – POIMÉNAS (substantivo acusativo masculino plural de poimen) – “E Ele mesmo deu... outros para pastores” (Conf. o verbete POIMEIN (pastor) no artigo de Joachim Jeremias “a designação dos dirigentes das igrejas locais como pastores” in Theologisches Wörterbuch Zum Neuen Testament, Band VI, pg. 497).

A obsessão por uma análise morfológica dos textos bíblicos que identifique o gênero das palavras para assim determinar uma interpretação distinta e exclusivista, masculina ou feminina, para este ou aquele texto é temerária e ao meu ver insustentável. A forma da palavra hebraica etzer de Gênesis 2:18 que traduzimos como socorro é do substantivo comum masculino singular absoluto homônimo. Então significa que quem argumenta pelo literalismo semântico precisa ser honesto e traduzir o termo ETZER de Gênesis por um substantivo masculino, socorro ou auxílio. Para ser coerente precisaria entender que essa expressão está associada não às mulheres apenas, mas à pessoa humana, ao ser humano como fica claro pelo uso do termo hebraico adam, que segundo Gênesis 5:2 é um termo genérico, abrangendo tanto macho quanto fêmea.
Na abertura do sermão do monte lemos: “Jesus, pois, vendo as multidões, subiu ao monte; e, tendo ele se assentado, aproximaram-se os seus discípulos, e ele se pôs a ensiná-los, dizendo” (Mateus 5.1-2). A palavra grega mathetai (discípulos) é um substantivo nominativo masculino plural. Se vamos seguir a lógica da hermenêutica do gênero e o literalismo semântico significa que todo o sermão do monte foi direcionado aos 12 discípulos homens; nada do que está aí escrito é para mulheres que, aliás, por aí não podem também ser discípulas! Para obedecer o ide de Jesus, teríamos então que fazer discípulos de todas as nações, mas não de todos os dois gêneros. Só homens poderiam ser discípulos de Jesus. Às mulheres restaria continuar perdidas nas trevas... Outro exemplo está em Mateus 4.19 – “Disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”. A quem Jesus dirigiu esse convite/ordem? Pelo texto bíblico: a Simão e André. Dois homens a quem Jesus comissionou para fazer “pescadores de homens”. Quer dizer que se eu aplico esse texto à toda a igreja, homens e mulheres, estaria, na linha de raciocínio literalista, errando duas vezes pois estaria atribuindo uma chamada divina feita a homens, também à mulheres e o que é pior, dizendo a elas para ‘pescarem’ também mulheres quando Jesus estaria dizendo originalmente à homens para ‘pescarem’ só homens! É óbvio o absurdo do argumento contra a ordenação feminina baseado em artigos definidos nos textos bíblicos, e em interpretação literalista da Bíblia. Bem disse Paulo que a letra mata!

Fundamentar um possível interdito bíblico ao chamado divino de mulheres para o ministério pastoral na base do literalismo semântico não me parece uma boa prática exegética e hermenêutica.

VII) O ARGUMENTO DA IMPOSIÇÃO DO SILÊNCIO À MULHER NA IGREJA
Essa subalternação de um ser criado ao outro, identificada na teologia da queda, representa uma ruptura da igualdade essencial e funcional, desejada e criada por Deus. Em Sua oração sacerdotal, Jesus orou "para que todos sejam um" (gr. hina pantes em osin - sendo osin verbo subjuntivo de eimi = ser). A oração de Jesus, portanto, era uma expectativa, um desejo, um sonho. Paulo, escrevendo aos Gálatas 3:28, disse: "porque todos vós sois um" (gr. pantes gar umeis eis este - sendo este verbo indicativo de eimi = ser). A expectativa de Jesus parece ter sido realizada na Galácia. E Paulo parece oferecer uma razão para tanto: "Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3:28).

Em Cristo, afirmou Paulo, não há homem nem mulher, porque todos são um. Ou dito de outra forma: "Todavia, no Senhor, nem a mulher é independente do homem, nem o homem é independente da mulher" (1 Coríntios 11:11). A teologia da redenção preceitua a isonomia entre homem e mulher.

Há, contudo, dois textos que trazem alguma dificuldade para nós: 1 Coríntios 14:34-37 e 1 Timóteo 2:11e12. "As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios maridos; porque é indecoroso para a mulher o falar na igreja. Porventura foi de vós que partiu a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor" (1 Coríntios 14:34-37). "A mulher aprenda em silêncio com toda a submissão (dedicação, devoção). Pois não permito que a mulher ensine (didasko), nem tenha domínio sobre o homem, mas que esteja em silêncio" (1 Timóteo 2:11e 12).

E, contudo, a Tito (2:3) Paulo escreve: "As mulheres idosas (presbutidas), semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras (diabolus), não dadas a muito vinho, mestras no bem (kalo-didaskalous)” (Tito 2:3 - ACF).

Sem entrar no mérito do uso de "presbutidas", obviamente da mesma raiz de “presbíteros”, Paulo diz que elas devem ensinar, ser boas mestras. Enquanto em Timóteo ele diz que não permitia que a mulher ensinasse, e em Coríntios diz que se as mulheres quisessem aprender que aprendessem em casa com os seus maridos, aqui ele diz que as “presbutidas” deviam ensinar bem, ou como Lutero traduziu, ser boas ensinadoras.

É bem verdade que o verso subsequente diz: "Para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos” (Tit 2:4-ACF). E, contudo, a argumentação de que aqui Paulo estaria dizendo que as presbutidas deviam ensinar tão somente as mulheres mais novas, e não a homens, não explica a expressão clara, geral e irrestrita em 1 Timóteo: "não permito que a mulher ensine", aplicável às mestras. E com referência às alunas Paulo é explícito: “se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios maridos;” (1 Coríntios 14). É dos maridos que deviam aprender; não de outras mulheres.

É bom lembrar que a única vez em que a palavra poimen, pastor, aparece se referindo a seres humanos, e mesmo assim no plural, é Ef. 4.11. Naquele texto o título é pastores-mestres (poimenas kai didaskalous). Nesse caso, ensinar (disdakalia) é a principal função de pastores (poimenas).

Como encarar o ensino Paulino, aparentemente contraditório entre o veto (Coríntios e Timóteo) às mulheres para o ensino por um lado, e, por outro lado, o imperativo (Tito) às mulheres para o ensino?

Penso que a explicação para o veto está no contexto de um pano de fundo, tanto judaico quanto grego, desfavorável à mulher (ela não era uma pessoa, mas uma coisa), à ordenação legal ("como também ordena a lei" - 1 Coríntios 14:34), bem como a posição pessoal de Paulo ("Não permito" - 1 Timóteo 2:11), que era absolutamente honesto quanto às opiniões pessoais ("não tenho mandamento do Senhor; dou, porém, o meu parecer, como quem tem alcançado misericórdia do Senhor para ser fiel" (1 Coríntios 7:25). Quanto à afirmação em 1 Coríntios 14: "Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor". Bem pode ser que Paulo se referisse à sujeição à lei, como "mandamentos do Senhor", e não necessariamente ao veto ao ensino feminino.

Falando sobre as mulheres na igreja, William Barclay diz: “Foi Maria de Nazaré a que deu à luz e educou ao menino Jesus; foi Maria de Magdala a primeira a ver o Senhor ressuscitado; foram quatro mulheres as que, de todos os discípulos, estiveram ao lado da cruz. Priscila com seu marido Áquila era uma mestra apreciada na igreja primitiva, uma mestra que guiou a Apolo no conhecimento da verdade (Atos 18:26). Evódia e Síntique, apesar das desavenças, eram mulheres que trabalharam no evangelho (Filipenses 4:2-3). Felipe, o evangelista, tinha quatro filhas que eram profetizas (Atos 21:9). As mulheres anciãs podiam ensinar (Tito 2:3). Paulo considerava com alta honra a Lóide e Eunice (2 Timóteo 1:5), e muitos nomes de mulheres são mencionados com alta estima em Romanos 16.

Tanto o pano de fundo judaico quanto grego era que a mulher não era uma pessoa, mas uma coisa. Assim, as orientações paulinas são normas transitórias estabelecidas para enfrentar uma situação concreta. Não devemos ler estas passagens como uma barreira à tarefa e serviço da mulher dentro da igreja; devemos fazê-lo à luz do pano de fundo judaico e da situação em uma cidade grega. Todos são aptos para servir a Cristo, Deus quer usar a todos" (El Nuevo Testamento Comentado por William Barclay. Volumen 12 I y II Timoteo, Tito y Filemon. – Argentina: La Aurora, 1983, 74-77).

VIII) DE UMA COMPREENSÃO TITULAR PARA UMA COMPREENSÃO FUNCIONAL
Tenho uma visão pessoal sobre o ministério pastoral (idêntica sobre o ministério diaconal). Ele não é um título, mas é uma função, ocupação, tarefa ou como dizemos um ofício (os dois oficiais da igreja são na ‘tradição’ batista, pastores e diáconos). Tenho, portanto, uma compreensão funcional do ministério pastoral. Quando atuava apenas como diretor de Faculdade Teológica não ostentava nem usava o título de pastor em minhas correspondências e pronunciamentos, mas apenas o título acadêmico. Penso, por exemplo que se um pastor resolve assumir uma carreira política, deve identificar-se como político e não como pastor. Sou avesso aos candidatos a cargos eletivos na carreira política e que usam o moto: “Vote no Pastor Fulano de Tal”. Pastor para mim é quem exerce determinadas funções no Corpo de Cristo, em geral, plantar igrejas, dirigí-las e administrá-las (Tito 1:7), pregar, aconselhar, visitar, enfim ‘pastorear e apascentar as ovelhas e cordeirinhos de Jesus (João 21:15-17). Penso que se deixássemos a compreensão titular para adotar a compreensão funcional, teríamos uma melhor compreensão sobre o chamado divino para o ministério pastoral.

Quem ousaria colocar em dúvida que Deus chamou Jaqueline de C.A. da Hora Santos para “pastorear” ovelhas de Jesus - a missionária da JMN que pregou na CBB em João Pessoa e que antes de se casar, plantou 11 igrejas batistas? Quem ousaria colocar em dúvida que Deus chamou a missionária da JMN, hoje aposentada, Dilene Nascimento Rodrigues para pastorear as ovelhas de Jesus pelas várias igrejas por onde passou sozinha fazendo um extraordinário trabalho de plantação, liderança e pastoreio? Os exemplos podem ser citados ad infinitum! Milhares de Mulheres, chamadas por Deus, que funcionaram e funcionam como pastoras, embora sem o título oficial de pastoras. Digo oficial porque muitas delas foram e são chamadas pelo povo que lideram de pastoras!

Quem ousa colocar Deus contra a parede e em xeque, com um ‘interdito bíblico’ à prerrogativa divina absoluta de chamar quem Ele quer, quando Ele quer, para colocar onde Ele quer?
Deus nos diz através do salmista: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra” Salmo 46:10. Gosto particularmente da tradução em português da King James Atualizada:
“Cessai as batalhas! Sabei que Eu Sou Deus!”

Que cessemos de vez as batalhas na seara de Deus (essa não é a ‘nossa praia’!) e deixemos Deus ser quem Ele é, Deus!

Fonte: http://vigiai.net/articles.php?article_id=6006

domingo, 23 de fevereiro de 2014

As lições do incrível caso de Paul(David) Young Cho...


Esta não é hora para tripudiar sobre a desgraça alheia, mas é um bom momento para profundas reflexões sobre finanças e igrejas. Leio no Notícias Cristãs que o Rev. David Yonggi Cho, conhecido mundialmente como Paul Yonggi Cho, foi acusado de desfalcar sua congregação por um grupo de membros da Yoido Full Gospel, igreja fundada por ele, em Seul. Em seguida, comprovou-se a fraude e eles foram condenados a pagar multa e três anos de prisão. O crime de Paul, em conluio com seu filho, foi a compra por valores artificialmente elevados de ações, com o dinheiro da Igreja. A brincadeira chegou ao montante de US$ 21 milhões!

Lembro do ano de 1990, quando o Plano Collor foi lançado. Eu era funcionário do Banco do Estado de Pernambuco e ouvi muitas histórias de pastores que aplicaram o dinheiro da Igreja na conta pessoal e de lá em overnight (rendia 3% no final de semana) e outros fundos. De repente, não podiam mais dispor dele imediatamente. Alguns alegaram que o plano Collor prendeu o dinheiro da igreja, na verdade prendeu o dinheiro dela na conta dele! Inclusive, as igrejas, por serem pessoas jurídicas, tinham uma disponibilidade maior segundo as regras do plano. Até hoje muitas histórias nebulosas não foram esclarecidas Brasil afora. Mas como aqui é o país da impunidade e a maioria dos fieis nada sabe das finanças de suas igrejas o assunto caiu no limbo.

A primeira grande lição da história de Cho é o personalismo de sua igreja de 800 mil membros. Embora tenha presidido a Assembleia de Deus da Coréia do Sul, a verdade é que sua igreja, da qual é presidente emérito, está centrada em sua pessoa. Nas investigações descobriu-se que ele ordenou a saída do dinheiro da tesouraria da igreja, beneficiando seu próprio filho. Um simples pastor emérito não teria tal acesso. Pelo que apurei, o filho era dono do jornal da igreja (vejam que reprise!?), em 2002, numa operação cruzada, ele vendeu as ações para a igreja por US$ 80,06, quando valiam US$ 22,12. O prejuízo aflorou. Mas o carisma do líder inibiu maiores esforços dos procuradores, até que em 2011 a congregação apresentou a queixa. Agora a questão ganhou um desfecho.

Se muitos pastores fossem despidos de seu carisma grandes escândalos surgiriam. Longe de mim desejar isso, mas cada um veja como edifica. Nas alegações dos membros Cho também é acusado de privatizar ativos. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

A segunda lição é que essa história de nepotismo, com regular frequência, deságua nestes problemas. Mormente a capacidade de muitos líderes, penalizados pela situação financeira dos seus ou para ampará-los mesmo, criam espaços e oportunidades e neles empregam filhos, netos, parentes e aderentes, sem prestar atenção adequada a seus passos. Quantas vezes já não vimos aquele parente que não tem nenhuma qualificação para determinado cargo ser alçado a ele? Depois é só administrar as crises. Chega a ser incrível como a história se repete e poucos aprendem. O pior é quando o líder maior arrasta outras lideranças para referendar suas decisões, gente que sabe que ele está errado, que o escolhido tem como única competência ser do clã. Quem nunca viu esse filme?

Em muitos casos filhos, netos, cunhados, genros são agraciados com os cargos mais elevados. E muitas vezes com salários incompatíveis com seu currículo. Não é raro criar um cabide no qual tais parentes não trabalham, ou trabalham muito pouco em relação aos demais, tal e qual prefeituras e sinecuras governamentais, somente para garantir-lhe apoio em alguma demanda. Tudo isso bancado com dízimos e ofertas. O Brasil enfrenta ainda outra questão neste quesito: o usufruto da Igreja para fins políticos privilegiando parentes. Ou seja, o pastor presidente usa seu prestígio para, por exemplo, impor à Igreja parentes de sua confiança para a candidatura a cargos eletivos o que é, inclusive, expressamente proibido em Lei!

A terceira lição é a perseguição eclesiástica. Vinte e oito pastores foram suspensos ou expulsos por não retirar as acusações contra Cho. Ora, ora, não é por isso que muitos se calam? O dado recorrente é que é ao invés de esclarecer o que está em curso, preferem fazer o bolo crescer e atingir a Igreja, para se poupar do escândalo. Agora, já condenado, o pastor se ausentará da presidência da Igreja em Seul? Como fica a situação dos que foram expulsos ou suspensos, diante da comprovação da fraude? O legado de Cho carregará esta mancha? São questões importantes para refletirmos nesta manhã. A Bíblia diz que é melhor o fim das coisas do que o começo (Eclesiastes 7:8).

A quarta lição é uma mudança sutil nos tempos e nos templos, para aproveitar um trocadilho. A igreja está mais informada. Exige maior transparência. Antes a liderança podia tomar uma decisão e dizer simplesmente: Foi Deus que mandou ou ordenou. Agora tais subterfúgios (desculpas esfarrapadas) estão sendo pesadas racionalmente. Isto decorre da falha de confiança nos inúmeros casos da História. A igreja descobriu, apanhando na cara, que nenhum pastor é infalível, nem Davi Young Cho pode ser poupado. É bom prestar atenção a estes novos ventos.

Aqui no Brasil dez integrantes da cúpula da Igreja Cristã Maranata (ICM) foram presos no dia 24 de junho de 2013, entre eles o fundador, pastor Gedelti Gueiros. Segundo o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MP-ES), os líderes praticaram crimes como estelionato, formação de quadrilha e duplicata simulada. Eles teriam praticado desvio de dízimo da igreja, envolvendo uma movimentação financeira de R$ 24,8 milhões, segundo o próprio MPES. Antes, em março, Gedelti e outros três membros da ICM haviam sido presos por coagir testemunhas do inquérito que investiga a igreja. No caso de Cho, o gerente do jornal também foi preso. Convém a tesoureiros e outros ao receberem ordens neste sentido ficarem alertas, pois podem ser incriminados pelo simples motivo de serem os guardiões conjuntos dos recursos das igrejas.

No final do ano passado, para os bons entendedores, foi aceso um alerta. A Receita Federal indicou que está analisando o patrimônio de pastores e líderes proeminentes. Já há relatos de desfechos destas investigações. As lições estão aí. Há muitas que me faltam tempo para analisar. Prezados, dez leitores, façam seus links.

Fontes:
Notícias Cristãs
http://groupsects.wordpress.com/2013/03/15/yonggi-cho-investigation/
http://www.atoast2wealth.com/tag/david-yonggi-cho-arrested/
http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2013/07/justica-suspende-intervencao-na-igreja-crista-maranata-no-es.html
Site da Igreja do Pr. David aqui.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

É disso que precisamos no Brasil!


Leiam esta notícia alvissareira do Notícias Cristãs:
A denominação pentecostal dos Estados Unidos, a Assemblies of God (Assembleia de Deus), há quase 100 anos atrás se recusou a apoiar um missionário que queria ir para a Libéria, por causa de sua raça negra. O episódio levou o missionário a fundar outra instituição e quase um século depois, está havendo um acordo para a reconciliação.
É disso que precisam nossas igrejas aqui no Brasil. Humildade para reconhecer os erros mútuos, para reconciliar-se com o outro e unidos caminhar para o alvo que é Cristo. De Norte a Sul do País brigas intermináveis enlameiam aquela que é a maior denominação brasileira, para vergonha do evangelho, registre-se!

Falar de amor e união é até fácil, difícil é estender a mão!

Link para o Notícias Cristãs, aqui.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Que nojo!



Leio no Notícias Cristãs que ...em troca de apoio à reeleição da presidente, religiosos exigem compromisso de que ela não apoiará a flexibilização da lei sobre aborto nem dará "privilégios" aos homossexuais.

É algo nojento. Primeiro, porque é programa do PT tais coisas e Dilma é peixe miúdo no partido, entrou pela porta dos fundos, saindo do PDT. O Governo, através de seus ministros, e operadores apoia integralmente a dita cartilha progressista, que é apenas um nome bonito para ações esdrúxulas e metódicas para minorias supostamente abandonadas pelo Poder Público. Segundo, porque é o Congresso quem legisla. Dilma, no máximo, veta. Mas o Congresso tem poder de derrubar os vetos. Isso mostra não apenas miopia e aproveitamento pessoal, mas analfabetismo político.

Não conheço a CONCEPAB, nem faço parte dela. E agora não faria mesmo. Mas os tais pastores alegam tem feito a diferença na eleição de Dilma. Bobinhos, são adesistas. Se o Anticristo viesse montado num cavalo e bem votado, muitos desses líderes apoiariam a empreitada, esperando alguma vantagem. Aliás, a depender de líderes desse quilate, ele não terá dificuldade em implantar seu reinado. E ainda dizem que estão decidindo a quem dar apoio. Já decidiram, dão apoio ao partido que estiver no poder ou bem cotado para ganhá-lo. Esses pastores não tem programa, nem ideologia.

Não por acaso um dos dois maiores líderes assembleianos, portanto, da maior denominação evangélica brasileira, já declararam apoio a Dilma para 2014! E o outro, Pr. Manuel Ferreira, em 2010, fez o sacrifício de renunciar a uma candidatura a senador para se tornar o secretário especial da candidata Dilma para assuntos evangélicos.

Então, ficamos assim: é só marcação de território para se cacifar para alguma coisa mais adiante. Tais pastores deveriam estar preocupados em politizar seu rebanho para não ficar à mercê de aproveitadores e demagogos.

Se Aécio Neves ou Eduardo Campos crescer nas pesquisas, a decisão deles muda. Vivem fascinados pelo poder.

Link do Notícias Cristãs aqui.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Uma certa Frida


Por ocasião do lançamento do livro Frida Vingren, no qual há detalhes maravilhosos sobre a vida de nossa pioneira, republico o texto abaixo, postado aqui no blog há dois anos. Para comprar o livro, clique na imagem. Eu já comprei o meu e estou devorando.

Tua aparência frágil me encantou. Confesso nunca ter olhado muito bem. Agora esses teus olhos enigmáticos me fitam. És enfermeira, eu sei, sabes traduzir dores e anseios. Não é isso que me prende tanto a atenção agora, essa tua profissão. É que sendo bem sucedida como dizem, chegando a ser chefe de um hospital, largaste tudo e vieste pra cá, depois de uma guerra... Certamente é uma ocasião em que há muitos feridos para cuidar. Eras tão jovem, apenas 26 anos. Não pensavas em casar, ter filhos, família aí mesmo? Quem sabe, te projetar profissionalmente?

O que te cativou? Seriam os trópicos? Sei que em teu País o inverno é pesado... Não foi a floresta, pois aí a tinhas. Não foram os peixes. Aí tens a deliciosa truta e o inigualável salmão. Não foi o trem, rangendo em seus trilhos, pois também os há de onde vieste. Certamente não foi o desenvolvimento. Teu país produzia tecnologia quando o restante da Europa ainda engatinhava. Agora mesmo estamos querendo os caças produzidos aí! Custo a acreditar que algo subjetivo te movia, quando Petrus, aquele visionário impulsionador de jovens talentos, apenas te admitiu para estudares a Palavra de Deus.

Sendo mulher e solteira as coisas ficariam um tanto difíceis. Aliás, quando decidiste vir ao Brasil, sabias que aqui não eras bem vinda. Apesar do provável apoio dos missionários de tua denominação, especialmente teu futuro marido, havia o machismo enrustido dos nordestinos. Era o prenúncio desta briga insana e mesquinha que hoje nos divide, insultando tua memória. Só restaria dinheiro e sucesso, mas a história mostra que apesar de carregares o piano, uma expressão criada por um sociológo brasileiro, para descrever tuas agruras com um marido doente, pouca ou nenhuma laúrea recebeste. Então, o que seria?

Imagino-te a implorar a Deus por um destino, abrasada pelo Espírito Santo. Tuas lágrimas e tuas orações tomaram forma quando conheceste Gunnar, então tudo se aclarou. Era o destino unindo a vontade de Deus com uma obra de tal dimensão jamais igualada por quaisquer outros missionários. Ainda que fosse somente por ele, nada te diminuiria. Ao contrário dos bons partidos líderes de hoje, filhinhos de papais-pastores, aquele homem doente e pobre nada teria a oferecer a não ser amor, cuidado, compreensão e carinho. Ele não estava construindo uma empresa, estava embrenhado em matas, falando uma nova mensagem a estranhos. Nada tinhas a herdar, como de fato, não herdastes nenhum tesouro neste mundo.

Dizem que eras incansável. Editando jornais, pregando em praça pública, compondo, traduzindo, escrevendo, costurando, falavas dois idiomas. Ouvi dizer que fazias cultos na Casa de Detenção. Ora, se hoje já é dificil a um homem pregar num presídio... Eras corajosa, constato. Ecos da profissão, talvez. Na enfermagem se lida com nada menos que a morte e o sofrimento. Leio relatos assim:
Em março de 1920, irmã Frida foi acometida de malária, sofrendo com terríveis ataques de febre. Durante dois meses e meio, a luta pela vida foi tamanha, a ponto do marido pedir que Deus a curasse ou a levasse para si. Nesse período, a igreja em Belém se colocou em oração e jejum, esperando de Deus um milagre, que ocorreu em 3 de junho de 1920. Depois de seu restabelecimento, ela enfrentou o problema de saúde do marido.
Imagino-te uma esguia figura de vidro diante dos ventos tenebrosos do começo. Em nada lembras as suntuosas madames de hoje em dia, preocupadas com festas e poder, que presentes ganharão nos aniversários ou onde jantar no fim de semana. Sabias que cantoras evangélicas como tu, hoje são chamadas de divas!? Nos tornamos chiques demais para teus padrões. Roupas caras não eram teu forte, inferimos das poucas fotos que nos restam.

Volto a olhar-te. Estes teus olhos não são lascivos como o de algumas obreiras. São olhos ensimesmados. Ciosos de um mundo a ganhar. Olham para um horizonte tão vasto cuja dimensão somente a eternidade vai revelar. Como se dissessem: Não nos decepcionem, sofremos muito por vocês. Ou quem sabe: Não nos olhem com piedade, façam sua parte da história, sem olhar pra trás. Não sei bem como interpretá-los, há tantas possibilidades, não é mesmo? Talvez estavas apenas olhando pelos teus, para que saíssem bem na foto. As mulheres tem esse dom.

Reverencio-te, comparando-te às muitas nobres senhoras de nossas igrejas. Aquelas que eram dez, vinte, cinquenta e depois multiplicaram-se por mil. Não vieste apenas fazer turismo, disfarçado de missão, estavas a serviço de um Deus que nunca te desamparou. Estavas certa quando largastes tudo. Do alto dos teus 49 anos padeceste tua dose final de humanidade. Sempre jovem para tudo o mais, até mesmo para dizer adeus. Como afirmas em um dos teus hinos: Se Cristo comigo vai, eu irei...

Por que Maria não pode interceder por nós?

O assunto é recorrente, mas é necessário abordá-lo, buscando conscientizar biblicamente nossos interlocutores. Analisemos uma situação hipotética, esboçada na imagem abaixo (clique para ampliar):
Os destinos poderiam ser quaisquer outros. Dois devotos, em lugares diferentes, distantes entre si por quase 3.000km, se ajoelham e rezam, no mesmo dia e hora. Maria não pode ouvi-los, pois deveria ser Onisciente e Onipresente. Aliás, nenhum dos outros santos católicos, aos quais se atribui algum poder.

Infelizmente, a Igreja Católica mantém seus fiéis com tais doutrinas heréticas. Por oportuno, aproveitamos para esclarecer que só há um mediador (I Timóteo 2:5) e um só salvador, pois somente um morreu (II Coríntios 5:14).

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Informação importante!

Por favor, dez leitores, não me peçam para comentar as últimas declarações do Pr. José Wellington sobre pastores fracassados, vaidade feminina e males da Assembleia de Deus. É puro desvio de foco. Estou sem tempo e assuntos semelhantes já foram comentado aqui, procurem na busca, do lado esquerdo. Ok?

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Uma entrevista com milhões de informações subliminares

O gospel é a próxima onda brasileira, diz executivo que lançou Michel Teló


"É natural que uma empresa de mídia abra espaço para os evangélicos. Eles hoje são cerca de 30% dos brasileiros e daqui a dez, 15 anos vão ser metade do Brasil". É assim que Leo Ganem, diretor da agência UM Entretenimento, sintetiza o fenômeno do mercado gospel no país em anos recentes.

Biólogo e ex-presidente da gravadora Som Livre, onde lançou nomes como Maria Gadú e Michel Teló, Ganem personifica uma conjuntura em que a música cristã cresce em oposição à crise no mercado fonográfico. Mesmo não sendo evangélico, ajudou a introduzir o gospel no mercado secular, ainda na Som Livre, através da coletânea "Promessas" e criou, em 2013, a UM Entretenimento para investir em talentos cristãos.
Parceira da Universal Music, a UM se diferencia pelo tom moderno que aponta os novos rumos do universo gospel. Entre os artistas no cast inicial estão o grupo DN1, primeira boy band evangélica do país, e a cantora Radassa Peres, especializada em música eletrônica cristã.
Em entrevista exclusiva ao UOL, Leo Ganem fala sobre sua trajetória pessoal, as peculiaridades do mercado cristão ("Você tem que criar esses laços políticos e de relacionamento com os pastores, com a liderança evangélica"), seu objetivo de introduzir o gospel nas rádios seculares e, de lambuja, como identificar e produzir um hit cristão.

UOL - Como você chegou até a UM? Como foi sua trajetória pessoal?
Leo Ganem - Minha trajetória pessoal não é a mais ortodoxa. Eu me formei em biologia, passei dez anos como pesquisador nos Estados Unidos e, quando bateu aquela saudade do Brasil, não fazia sentido voltar como pesquisador. Acabei arrumando emprego numa consultoria de negócios. Mudei de vida completamente e, a partir dessa consultoria, surgiu a oportunidade de me juntar à Som Livre. Foi onde me encontrei. Passei seis anos na Som Livre, três como presidente, e depois o pessoal da Globo, da qual faz parte a Som Livre, me pediu para assumir a Geo, que era a empresa de eventos do grupo. Fui para lá e tive a oportunidade de trabalhar com artistas e eventos maravilhosos.
Como você chegou nesse cenário evangélico e à ideia da UM?
Na Som Livre, eu e meu diretor comercial na época, o Emílio Magnano, tínhamos uma coletânea que estava meio engavetada e se chamava "Promessas". Seria a primeira coletânea evangélica da gravadora. Estávamos pensando se isso iria para a mídia. Era um negócio politicamente sensível na época, não sabíamos como tratar. Tomamos a decisão de pôr na mídia e ver como a coletânea se sairia. Para nossa grata surpresa, ela decolou, vendeu muito bem. Pegamos a marca "Promessas" e apropriamos para o festival e o troféu, que levaram o mesmo nome, criados ainda na Som Livre. Quando mudei para a Geo, continuei muito próximo do meio evangélico.
Continuamos produzindo o festival e o troféu "Promessas" na Geo. Criamos também uma feira. Quando finalmente tomaram a decisão de mudar a estratégia da Globo com relação a eventos, eu saí do grupo e pensei: "Quero ter meu negócio. A plataforma de comunicação na qual eu acredito hoje e o público com o qual eu consigo consolidar e estruturar um bom negócio de música é o evangélico". Foi aí que surgiu essa fagulha. Me juntei com o Emílio, hoje meu sócio, e nós criamos a UM Entretenimento.
Você disse que era algo politicamente delicado. Como era essa relação entre o mercado secular e o mercado gospel?
Na época, não havia relação. Ninguém fazia o meio de campo entre o secular e o gospel. No passado, houve casos de gravadoras seculares com cantores evangélicos, mas na nossa geração não tinha ninguém trabalhando assim. O que eu quis dizer é que é necessário abrir com muito cuidado essa porta. Primeiro porque você está tratando com a fé das pessoas. Não é só música, arte e dinheiro. É arte, dinheiro e fé. Você tem a oportunidade de trabalhar com uma coisa relevante para milhares e milhões de brasileiros.
O hit do mercado gospel é muito diferente do hit no mercado secular?
Ele tem alguns dos mesmos elementos. Você precisa de uma melodia simples que apele para uma grande massa de pessoas e a harmonia também costuma ser simples. Generalizando, claro. Nem toda harmonia é simples, nem toda melodia é pouco sofisticada. Mas, como regra geral, essas são as grandes músicas que emplacam. Essas são coisas em comum entre a música evangélica e a música secular. Mas para além disso, o que a música secular não tem e a evangélica tem que ter é uma mensagem bem costurada que fale dos valores e da fé.  E o artista tem que navegar bem não só pelos palcos, mas também com os pastores e a igreja. Ele não pode esquecer das raízes.
A parte de relações artísticas do selo então fica diferente por causa dessa relação com a igreja?
Certamente. Você tem que criar esses laços políticos e de relacionamento com os pastores e com a liderança evangélica. Não é muito diferente do nosso dia a dia com outros negócios. Você tem que criar seus laços com as pessoas que realmente coordenam aquele segmento. Então a gente acaba tendo áreas para contato com as igrejas, para conversar com pastores e para o café com as lideranças.
Está claro que existem elementos da letra e da mensagem que não se encaixam na música evangélica. Mas, na parte musical, existe espaço para todos os tipos de gênero ou algo que ainda não pode ser feito?
Em termos de estilo, pode tudo. Se você olhar a gama de música evangélica brasileira, eu diria que é a mais rica do mundo. Vai do sertanejo ao rock passando pelo hip-hop e funk. Todos os estilos musicais que você vê no secular existem no evangélico. É errado falar de "música gospel" pois é um estilo muito bem definido que tem raízes nos Estado Unidos, que é a música de louvor de igreja norte-americana. Aqui no Brasil também existe, é um segmento importante, mas não é o único. Você tem música cristã de todos os tipos.
Como é a relação com o mercado secular? Já existe uma intersecção com o mercado ou são dois nichos separados?

Existem algumas intersecções interessantes começando. Por enquanto, eles ainda viveram paralelamente como mercados separados, mas hoje se vê muitos cantores evangélicos fazendo a ponte e cantando em rádios seculares. Esse é o primeiro grande passo. Você tem ThallesRégis Danese e outros que já fizeram o crossover e tocaram muito bem em rádios seculares. Isso é interessante, porque para mim é o próximo grande passo da música evangélica: não se restringir só ao músico evangélico. Existem artistas de altíssima qualidade fazendo música com uma mensagem bonita. Quando você tem vários estilos musicais, e não apenas o louvor da igreja, é natural que isso aconteça, como acontece lá fora. Há um século, talvez,  já se vê grandes artistas indo e vindo. Elvis Presley talvez seja um grande exemplo de artista que adorava a raiz gospel, cantava contra o desejo dos empresários, os hinos da igreja dele e isso funcionava muito bem para uma plateia que era absolutamente heterogênea. No Brasil, a gente pode e vai ver isso acontecendo, estou apostando e querendo ajudar.
E dos artistas que vocês estão trabalhando agora, quais são as características de cada um?
Temos dois modelos de trabalho. Temos aqueles artistas que vêm só pela prestação de serviços, mas não temos participação efetiva na carreira deles, não somos sócios. E tem outros com quem a gente tem realmente uma sociedade profunda, somos parte da carreira. Cito exemplos dos dois lados: o Renascer Praise que é um ministério de vários anos, histórico de São Paulo, está com a gente. Veio para ser distribuído através da Universal e contratou nossos serviços de agendamentos de shows. Não tenho uma participação na carreira do Renascer, mas sou comissionado pra vender os shows dele e sou recompensado pela Universal por trazer esse artista. E temos neste modelo também o DN1, uma boy band evangélica.
Do outro lado, eu tenho artistas como Eli Soares, que está saindo agora, em quem eu aposto para ser o grande nome em termos de revelação para 2014, e nós participamos ativamente da carreira dele. Temos a Radassa Peres, uma menina de Goiânia que está se mudando para o Rio, que canta música gospel eletrônica. Temos o Clóvis Pinho, que acabou de assinar com a gente, é um excelente nome, regresso do Renascer Praise, que está lançando a carreira solo e é um grande nome e eu sou um fã da música dele. Acho a voz fenomenal, as composições fenomenais. Está se juntando à gente agora. Esses são os dois modelos. Eu diria que hoje temos uns seis ou sete artistas no cast
Você chegou ao cenário evangélico por uma questão de mercado ou por um fator de convicção pessoal, em relação à mensagem e conduta dos artistas?
As duas coisas. E a falta de qualquer uma das duas invalidaria a outra se não fosse verdade. Houve sim uma tremenda evolução do mercado evangélico no Brasil. Ele está num momento onde vai tocar não só o coração dos evangélicos, mas vai começar também a tocar nas rádios seculares. Acredito que a música evangélica seja a próxima grande onda brasileira. E não me entendam errado quando eu falo em "onda". Eu entendo que existam milhões de pessoas que sempre tiveram a música evangélica no coração, por uma questão de fé. Estou me referindo a um público que talvez não seja nem evangélico, mas vai começar a ouvir música evangélica. Então, se o primeiro ponto é este grande salto de qualidade e diversidade, o segundo ocorreu através da aproximação que eu tive com vários artistas, profissionais e pastores. Acabei me aproximando muito da mensagem, com a qual eu simpatizo muito. Infelizmente às vezes a mídia retrata os piores pontos de cada segmento. É preciso dar más notícias para vender jornal. Mas quando eu olho para a mensagem evangélica como um todo, é algo que está tocando o Brasil inteiro, salvando cidades inteiras do alcoolismo, por exemplo.
E a música católica, como se relaciona com a evangélica? Já existe a possibilidade de um trabalho conjunto?
A música católica também tem um mercado bastante bom, apesar de não ser tão rica e diversificada quanto o evangélico. Você tem bandas como o Rosa de Saron, que talvez seja uma das melhores bandas de rock do Brasil, e os padres cantores, como oPadre Fábio, o Padre Marcelo, o Padre Reginaldo Manzotti. É um segmento bacana, mas com menos variedade. Hoje, para falar a verdade, eu não estou misturando as coisas. Mais por uma questão de cautela na condução do meu negócio. Isso não impede pessoas católicas de ouvirem músicas evangélicas, como já acontece. No ano passado, teve um cantor evangélico nas celebrações da vinda Papa Francisco ao Brasil, o Asaph Borba. Então existe a possibilidade de uma ponte, mas pelos séculos de problemas entre essas duas culturas, prefiro ser cuidadoso. Vamos nos manter focados nos evangélicos.
Sobre o Festival Promessas, qual seu papel na introdução da música evangélica na mídia secular?
Na época, o presidente da Globo me disse que estavam querendo fazer um programa musical evangélico de fim de ano. Eu mandei então toda a ideia do festival e eles gostaram. O que seria para 7.000 pessoas acabou virando algo para 70 mil. No final, deixamos uma pegada muito importante para a cultura brasileira, colocando o gospel no horário nobre para o Brasil inteiro ver. É natural que uma empresa de mídia abra espaço para os evangélicos. Eles hoje são cerca de 30% dos brasileiros e daqui a dez, 15 anos vão ser metade do Brasil. Então se você não fala com esse público, você não está prestando atenção. Fico feliz de ter participado dessa mudança.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A 2a Guerra Mundial vista do espaço!

Para quem adora História, assistam esse vídeo impressionante e realista sobre a 2a Guerra Mundial, sob um prisma diferente.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Frida e o trabalho das mulheres já incomodava há 83 anos!

Trecho de carta enviada pelos obreiros nordestinos a Lewi Pethrus relatando a discordância com a atuação de Frida Vingren e seu trabalho. Aí uns bobinhos pensam que o problema é de hoje, do feminismo, sei lá o quê. Clique nas imagens e leia esta raridade.


Fonte: Acervo pessoal de Gedeon Alencar

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Dissecando um e-mail sobre o post anterior


Recebi um e-mail de um pastor assembleiano amigo. É um homem de larga experiência pastoral, tendo atuado em missões no Exterior. Ele sempre lê o blog, está entre os dez leitores. É, tenho poucos... não temo a insignificância... Como não me autoriza a publicação do nome e do conteúdo, vou pontuar e omitir certas referências pessoais que não prejudicarão o debate da questão.

Antes, algumas premissas:
1) Este blog nunca defendeu a ordenação de mulheres. Revirem a busca, no canto esquerdo. O que fizemos desde sempre foi alertar para a dissimulação, evidenciando que ou cumprimos o que está na Bíblia, o que seria impossível dada a quantidade de missões que nós, os homens, entregamos às mulheres em nossa igrejas, ou paramos com tanta bobagem sobre o assunto. Vou evidenciar algumas delas quando fizer a análise do e-mail;

2) Não defenderia a ordenação feminina perante minha Convenção. Jamais incluiria tal assunto numa pauta. Primeiro, porque não tenho envergadura para guiar pautas, segundo, porque há tantos outros problemas mais urgentes. Não é?

3) O desafio lançado desde 2006, lá se vão tantos anos..., é: a argumentação utilizada NÃO é bíblica, mas pura conveniência. Já demonstrei isso tantas e tantas vezes. Claro, claro, os opositores não desejam argumentar. Especialmente, quando o contraditório não se apóia em cosmovisão, mas em fatos. É o caso do famoso vídeo de Augustus Nicodemus sobre o assunto, postado e repostado tantas vezes. Perguntei ao Augustus, num post: Sua igreja envia missionárias? Ele respondeu, rispidamente: Envia, mas elas sabem ler a Bíblia e não querem ser pastoras. Quem entende um negócio desses? Vão, plantam igrejas, administram bens, ungem, oram, batizam, pregam, ensinam. O que mais é pastorear? O crachá? Ah!...

4) A rigor não tenho gurus. Leio muito, pesquiso razoavelmente, tenho luz própria, aliada a uma visão bem ampla da Igreja. As pessoas com as quais converso, interajo, partilho pensamentos e conhecimentos podem me influenciar. O que mais é cosmovisão? É incrível, mas minha querida mãe, assembleiana da gema, das antigas, do tipo que não veste nem maiô em praia, tem me oferecido, mesmo involuntariamente, muito mais reflexão neste quesito do que os expoentes da teologia brasileira;

5) A Igreja da qual faço parte esposa e endossa toda postura sobre o assunto que está disseminada na denominação no Brasil. Ou seja, é contrária ao pastorado feminino. Não só isso, mas NÃO consagra diaconisa, prebístera ou pastora. Está fora de questão, que em algum momento, nossa amada COMADALPE tenha adotado tal ideia. Porém, sinto-me livre para pensar o contrário e até justificar tal posição nos termos respeitosos que sempre nortearam minha pontuações. Ocasionalmente, tenho sido mais incisivo quando vejo tal debate aqui e acolá. Me arrogo o direito de discordar. Não abro mão dele, nem com um trem carregado de chumbo. Agora mesmo o assunto recrudesceu quando o Facebook de alguns pastores passou a alardear o pastorado feminino como o mal do século. Paciência! Haja miopia! Tantos e tantos problemas nas igrejas e justo isso é a causa? Não vou nesse vagão...

Mas vamos lá? Vou com ele em azul e eu em vermelho.

Sim, comemos nas mãos suecas, americanas, filandesas, inglesas. E daí? O material que tínhamos disponíveis era este, hoje podemos contar com materiais hispânicos, koreanos, europeus de forma abrangente. E daí? Simplesmente a preferência americana foi porque a CPAD, formada no Rio, teve forte influência americana. Seus missionários se concentraram mais lá. E daí?

Estava evidenciando um paradoxo. Recebemos avidamente o ensino americano, mas quando este feriu nossa cosmovisão, nosso brio, recusamos tais ensinamentos? Stanley Horton, por exemplo, subscreve o documento oficial da Assembly of God, dando pleno aval ao pastorado feminino. Vamos deixar de editá-lo?Nem questionei a qualidade das fontes americanas. Não é sobre isso que falamos, mas sobre a seletividade oportunista dos nossos líderes.

E daí? Daí que só nos interessou nos americanos o que nos foi conveniente. Exemplo, somente para divagar e ampliar a discussão: a eleição de pastores nas igrejas Assembleias de Deus de matriz americana. Na América Latina, via de regra, aonde a AD americana implantou igrejas existe eleição pastoral! Por que, na Bíblia, não poderíamos ter tal opção? Ah! Porque A ou B desejam se eternizar no poder!? Também não dá.

O fato delas serem palestrantes, não lhes dá as credenciais bíblicas para a consagração pastoral, ainda que o façam. Maria, mãe de Jesus, tinha credenciais melhores e maiores, foi digna de elogios angelicais, reverenciada e respeitada pelo próprio Mestre. Não entendo o porque de Jesus não consagrá-la pastora, apóstola, presbítera!? Deveria pelo menos deixar uma deixa para os discípulos e a separar para diaconisa, assim como Marta, Maria, Cloé. Sinceramente não entendo, porque Jesus não deixou uma lista de indicação.

Vamos por partes. Há duas questões levantadas no post: 1) Por que pastores abertamente contrários à ordenação feminina participam de eventos nos quais há preletoras? Pelo bem da coerência deveriam abrir mão de tal participação, uma vez que o argumento paulino do silêncio é o principal utilizado. Se Paulo diz que a mulher esteja calada na Igreja, por que deixá-la com a preleção? Pior, por que endossar a concessão pregando ao lado delas ou ouvindo-as? 2) Por que denominá-las, outrora ao menos, conferencistas ou palestrantes, enquanto homens são preletores? Se ambos farão a mesma coisa: pregar e ensinar, por que dividir as qualificações?

Vou devolver suas perguntas com outras: Quantos homens Jesus consagrou a diácono, presbítero ou pastor? Onde está a lista de indicação de homens que o Mestre deixou para tais cargos? Por outro lado, mesmo sendo Paulo tão rigoroso com os costumes judaicos e influenciado por tal cosmovisão por que se dobrou ao vento do Espírito (palavras da Assembly of God, para apoiar o pastorado feminino: quem somos nós para impedir o Espírito Santo?) e pôs Febe como diaconisa, além das demais mulheres do capítulo 16 de Romanos? Temos, então, que tais cargos surgiram da necessidade da Igreja.

O que dizer do ósculo? Gosto sempre de utilizar tal argumento, não que queira beijar os irmãos por aí, muito menos as irmãs. A questão é que tal procedimento é típico da cultura judaica!? Assim como é típico de tal cultura o desprezo pela mulher. Um rabino dizia em prece, pela manhã: Te agradeço, ó Deus, porque não me fizeste gentio, escravo ou mulher. Um rabino jamais ensinaria uma mulher a Lei, era tido como algo desprezível e humilhante. E aí? Vamos cumprir a doutrina do ósculo ou não? Dizemos, americanamente, que uma doutrina é ensinamento contido em mais de uma passagem bíblica, o ósculo tem cinco! Paulo encoraja vivamente a prática!

Uma pena que não estarei lá, pediria para tirar um bocado de foto, eu anotando os estudos, me alegrando se a mensagem tiver unção, e repassando para meus liderados o que aprendesse com elas, e ainda assim elas não seriam consagradas a pastoras. Sei que muita gente de outras tribos de Israel queriam ser levitas e vemos casos na Bíblia, por não haverem levitas ou não darem o devido valor bíblico a tais, em muitas cidades fizeram sacerdotes para si, mas Deus nunca aceitou. Por que só os levitas não seria Deus discriminador??? Nem o rei podia entrar no lugar Santo e no lugar Santíssimo, não seria Deus discriminador? Deus coloca o homem como o cabeça da casa e não a mulher, não seria Deus discriminador??? 

Eu gosto de ver esse pessoal argumentando, no meio vemos as verdadeiras razões ocultas sob o manto de eisegese e conveniência bíblica. Aliás, a Bíblia pode ser usada como uma carapuça, não é? Vamos ao que interessa. Primeiro, sua colocação sobre ouvir e aprender com as mulheres do evento, mesmo sob os holofotes não me surpreende. É exatamente esta contradição evidenciada tantas vezes aqui. Colocamos as mulheres nos seminários, damos espaço de liderança para grupos de 200, 300 pessoas, a depender do tamanho da igreja mulher lidera até 1.000 vozes em um coral, por exemplo. Enviamos como missionária. Mulheres de pastores mandam e desmandam no ministério, a ponto de influenciar indicações ministeriais. Depois, dizemos: Somos contra o ministério feminino.

Esse blog é contra a DISSIMULAÇÃO! Pela enésima vez: Ou as calamos e cumprimos EXATAMENTE o que está nos textos que utilizamos para justificar este posicionamento ou, então, é só conversa fiada!

Quanto aos levitas, lembra que Davi comeu o pão do sacrifício? Não era permitido... Se formos usar esse tipo de argumento... Uma coisa é uma questão de ordem: Deus usar uma só tribo, fazer um dos cônjuges cabeça do lar, etc, outra coisa é dar com uma mão e tirar com a outra. Do mesmo jeito que não concordamos com uma mulher que manda no marido usando o argumento bíblico, abrimos mão de certos trabalhos mais complicados, como as classes infantis da EBD e o Círculo de Oração, de forma conveniente e sorrateira. Depois que as mulheres almejam aqui e ali algum espaço, negamos o crachá.

Por oportuno: Um lar no qual o marido morreu é um lar sem cabeça?

Eu vi algumas pastoras na Argentina com seus esposos que eram marionetes nas suas mãos e os problemas familiares não demoraram a vir. Hoje o ministério Pastoral feminino na Argentina é motivo de piada.

Qual o nexo? Tais maridos já eram marionetes no lar! Por outro lado, não há problemas nos lares de pastores (do sexo masculino)? Há as pencas! O ministério pastoral feminino é motivo de piada em qualquer lugar do mundo. Porque da mulher se cobra muito mais. Ela tem que provar que vai dar tudo certo, tanto como pastor, quanto como mulher. A qualquer deslize os críticos se aproveitam, como se não houvessem problemas nas igrejas dirigidas por homens. Um grande escritor assembleiano disse que é comum que nas igrejas dirigidas por pastoras hajam heresias, sendo que 99% dos desvios doutrinários foram criados por homens! Ou seja, se uma mulher criar uma heresia é tida como o buraco negro do ministério. E todos esquecem os problemas causados por homens.

Quando o pastor é o Pastor da Igreja o Ministério feminino é só uma ferramente para perpetuar o poder da família. 90% se o índice não for maior de pastoras, são esposas de pastores que lideram igrejas por que será???? 

Espere aí? Perpetuar-se no poder? O que mais homens fizeram e fazem ao longo da história da Igreja é isso! Normalmente, o pastor assembleiano brasileiro passa para filhos, netos e parentes seu pastorado. É uma constatação generalizada. As esposas de pastores que se tornam pastoras o fazem com a anuência dos mesmos. Está clara a vantagem familiar. Típica, aliás. Aqui nem há gregos, nem troianos, todos morrem no mesmo mar! Jurando de pés juntos que confiam na vontade de Deus... Confiam com seu espaço delimitado e ampliado o máximo possível!?

Minha esposa foi missionária, dirigiu culto, deu estudos bíblicos, me ajudou na missão. É um braço direito aqui, mas não busca o pastorado. E, meu amigo, se disser a ela o senhor não gostaria de ouvi-la!!!

Incluí a menção à sua esposa por uma necessidade colateral. Primeiro, incutiram a impossibilidade nas mulheres em geral. Deixar dirigir culto? Poode! Dar estudo bíblico? Poode! Ajudar na missão (não cozinhar, nem cuidar das crianças, mas absorver parte do pastorado, que é a realidade)? Poode! Segundo, muitas mulheres ajudam bastante mas não querem o pastorado com medo da oposição que se fará à sua aspiração, então anulam tal anseio, dissimulando-o e negando veementemente. É aquela história do adolescente apaixonado que coloca defeito na moça, somente para desviar a atenção. Terceiro, há inúmeras mulheres de pastores que não querem ser pastoras, até por questões denominacionais, MAS mandam como se fossem. Mais dissimulação ainda. Não conheço sua esposa, nem sei se é do tipo e não me interessa, mas deixo um abraço dizendo que 50% do sucesso de seu ministério se deve a ela.

Em tempo: minha mulher não gosta nem de dirigir, nem de falar ao microfone. Até canta, daí em diante, não quer. Treme e dá um nó só de saber que vai ter oportunidade...

É... eu  tenho visto os milagres que tem feito os americanos, que hoje não são exemplo para ninguém. Até diria aos meus alunos fuja da teologia americana e de sua forma de ver e viver o evangelho. Besteira pode chamar de pregadora, preletora, conferencista, isso não vai mudar a condição de consagração pastoral. Meu Jesus não consagrou, não deixou nenhuma direção acerca disso. O Velho Testamento, que é sombra, não consagrou sacerdotisa. Jesus não separou Apóstola, nem Paulo, Pedro, Tiago e João o fizeram, prefiro olhar para eles, do que me alimentar com conversa, que não produz fruto nenhum.

Gracas a Deus continuamos a não consagrar, o que Jesus não consagrou nem tampouco os apóstolos, prefiro ficar com o que Jesus deixou e  na doutrina dos apóstolos. Salve 2014.

Começo pelo fim. Esse post não é exatamente alimento, é debate. Tem gente que não gosta, foge, prefere falar de anjos e auréolas. Eu não fujo. Quando é um assunto que não conheço, me informo. Agora mesmo estou comprando um livro sobre Frida, lançado pela CPAD, resenharei aqui, tem tudo a ver. Se o autor não escondeu nada... 

Quando ao título no panfleto é mais uma faceta da dissimulação. Como já afirmei, se fosse mulher era palestrante nos antigos cartazes de CAPED e assemelhados, se homem, preletor. Hoje, já nivelaram. E elas falando na condição de ensinadoras o que é uma aberração diante dos argumentos que usamos para não as consagrar.

Jesus não separou apóstola. De fato, o próprio título é tardio. Não se encontra nos evangelhos. Caiu a ficha? As funções que endeusamos (não retirar o peso espiritual delas, apenas evidenciando a supremacia na qual as envolvemos) não foram criadas por Jesus. Aonde tem pastor presidente no NT? Conferencista? Diretor de missões? Coordenador de evangelismo? Vice-presidente? Tesoureiro? Gestor? Superintendente? Dirigente de Círculo de Oração? Maestro? Dirigente de Mocidade? Donde concluímos que há tantas e tantas coisas que Jesus não fez, ordenou ou determinou para sua Igreja e nós damos tanto valor. Não é?

Ahhh antes que me crucifique, dizendo que mando as irmãs fazer crochê (o argumentinho mais besta), que as mulheres fiquem caladas, saiba que eu quero que elas falem muito, ensinem muito, preguem muito, palestrem muito, só não vão ser consagradas viu, assim como os de Judá (de onde veio Jesus), Efraim, José, Rubem... nunca serão sacerdotes, pois isso é exclusivo para Levi.

Esta questão do crochê surgiu no seguinte contexto: Não queremos consagrar pastoras, mas permitimos e até incentivamos que nossas irmãs façam seminários teológicos. Podem até ensinar neles, fazerem pós, mestrado e tudo o mais permitido aos homens. Participam ativamente das famosas aulas de administração eclesiástica, etc. Pra quê? Sei como é difícil falar de paradoxos para um pastor assembleiano, mas não é para quebrar com mais qualidade a regra que estabelece que deveriam estar caladas?

Continue querendo que elas falem e preguem muito. Foi sempre assim. Nós é que nunca queremos ver do que são capazes nossas irmãs. Pra não ficar no será, procure no YouTube as pregações de Helena Raquel, assista com espírito desarmado e o senhor chegará a conclusão que há bem poucos pregadores em nossas igrejas à altura dela. Essa é a verdadeira questão, mulheres muito mais capazes do que nós, para as quais não queremos dar um simples crachá!

Pedro, também, já pensou um dia que o Espírito Santo não seria dado aos gentios...

Abraços!