Que Jesus morreu na sexta-feira, mais precisamente, quinta-feira, pois o dia judaico começa ao anoitecer (daí a contagem dos três dias), todo mundo sabe. O que pouca gente presta atenção é ao período compreendido entre sua morte e ressurreição, no domingo. Temos poucas indicações bíblicas, mas são referências poderosas.
Em primeiro lugar, Jesus morreu ao entregar o espírito. José de Arimateia, discípulo oculto de Jesus, solicitou seu corpo para colocá-lo numa tumba nova (Mateus 27:57; Marcos 15:43; Lucas 23:50, 51; João 19:38, 39). Nicodemos, outro discípulo oculto, levou cem arráteis de um composto de mirra e aloés para untar o defunto. E assim aquele corpo, que nas últimas horas havia padecido toda sorte de sofrimentos, pôde, enfim, ser colocado em paz.
Como Jesus em tudo se tornara semelhante aos irmãos (Hebreus 2:17), seu espírito unira-se à alma e já não partilhavam aquele corpo morto. Entendemos pela Palavra de Deus que os mortos justos iam a um compartimento do Hades, um lugar sombrio e temporário que será destruído no fim dos tempos (Apocalipse 20:11-15), conforme relatado por Jesus na enigmática parábola de Lucas 16:20. Este local era dividido entre justos e ímpios. Cremos que este foi o estágio inicial de sua peregrinação pós-morte (Efésios 4:9).
Com a chegada de Jesus ali aconteceu um dos momentos mais alegres e movimentados naquele lugar. Aquele que havia sido testemunhado pelos profetas, prenunciado como já vivente entre os homens por Lázaro, entre outros, estava bem ali. Todos podiam vê-lo, tocá-lo, ouvi-lo. Certamente uma euforia espetacular permeava o ambiente. Cremos que Ele se pôs a confirmar inúmeras profecias e consolar os justos a respeito do que viria. Mas não por muito tempo. Uma outra etapa estava aguardando Jesus.
Em I Pedro 3:19 está escrito que Cristo foi e pregou aos espírito em prisão. Que espíritos eram esses? Onde estavam? Certamente os ímpios mortos de todos os tempos, logo ali do lado. Satanás com seu dom para a mentira, tanto vociferava que a providência de Deus falhara para os justos, quanto assegurava que os ímpios não deveria crer na realidade da existência do Filho de Deus. Jesus não foi ali para pregar libertação e perdão, mas juízo e revelação (Colossenses 1:23). Imaginemos que tais pessoas estavam em desespero, sem alternativas, neste momento Jesus entra em cena. O Hades ficaria vazio! Ao contrário, Jesus, veio desmascarar para aqueles que ali estavam a mentira repetida pelo Inimigo.
Não foi pregar aos anjos caídos. Eles já o conheciam desde os céus. Foi tomar sua autoridade (Colossenses 2:15)! E não apenas isso: Tomou a chave da morte e do inferno (Apocalipse 1:18), esvaziando totalmente o poder do Diabo.
Uma nova etapa se descortina. Cristo é o Cordeiro de Deus, que foi oferecido como libação pelos nossos pecados. Mas seu sacrifício não estaria completo se não fosse aceito por Deus. Nos céus há um tabernáculo como mostrado a Moisés (Hebreus 8:2; 9:11,24) e nele Cristo entrou como Cordeiro. É disso que trata o capítulo 24 do livro de Salmos, versículo 7: Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. O Cristo, em corpo glorificado, foi acolhido no Céu.
O resultado imediato da aceitação de seu sacrifício é que assentou-se à direita de Deus em seu trono (Apocalipse 3:21). Jesus não usurpou o direito de sentar ali, Ele conquistou através de sua obra completa e eficaz.
Na manhã do domingo já um longo périplo havia chegado ao fim. Nada nem ninguém poderia detê-lo jamais.