Sinceramente, não ia escrever nada sobre este assunto. Mas ocorrências alheias à minha vontade me premem a fazê-lo. Ontem, um jornalista recifense decidiu tornar pública uma carta que enviou a Dilma, clamando, entre outras coisas, pelo enquadramento das igrejas. Em suas palavras não pagamos impostos, remamos contra a maré do progressismo e ainda queremos ditar como a sociedade deve se comportar. Que sejamos calados! Ele fez isso de maneira direta em seu blog [que não vou dar publicidade] e também num grupo mantido pela UFRPE, para alunos das mais diversas tendências, usando, inclusive palavras de baixo calão tais como:
E por falar em Feliciânus, chegou a hora de fechar o cerco contra as igrejas evangélicas, faculdade de charlatões, verdadeiras organizações criminosas, lavanderias financeiras, trampolins para o poder. Há de se punir quem desrespeita o Estado Laico, quem ataca as minorias e é contra as liberdades. Há de se extinguir a profissão de fiscal de c.., sobretudo.
No dia 26, Antonio Prata, colunista da Folha de São Paulo, já nos tinha equiparado, a nós evangélicos, à direita raivosa que, segundo suas palavras, mata gays, ofende negros, é machista e racista, condena o aborto, entre outros adjetivos mais auspiciosos. Jogou todo mundo no mesmo saco e lavou as mãos. O Sakamoto já tem sua cadeira cativa neste quesito. Fora comentários os mais diversos aqui e ali nas redes sociais.
No início da campanha Marina já havia sido espinafrada. Nem mesmo a publicação de seu programa de Governo, com itens que agradavam às esquerdas, amainou o debate. O jornalista de Recife estava arrepiado, com medo de um retrocesso nas conquistas como veremos adiante. É brincadeira?
Paralelamente, irmãos aqui e acolá se prestam a ser ventríloquos dos petistas e seu séquito. Uns inocentes úteis acham que a pauta de tais pessoas é apenas a eleição. E não é. De fato, a grande esquerda hoje tem quatro reivindicações fundamentais:
- Aborto
- Homofobia
- Fim do capitalismo
- Descriminalização das drogas
É verdade que Dilma foi reeleita. Isso deveria bastar às hostes, mas eles não se contentam com algumas coisas importantes que aconteceram nesta eleição:
1) Esquerdista de verdade não quer nada menos que a gratidão. Se Dilma dá o Bolsa Família, porque há de haver alguém no Brasil que não quer votar nela? Os inocentes úteis de que falei não entendem que estão defendendo o benefício, para que o projeto como um todo se firme. Ou seja, enquanto irmãos nossos entram na mesquinharia da defesa do Bolsa Família, dos nordestinos, do pobres do Nordeste e outras conversas fiadas desta natureza, que são cortinas de fumaça dos grandes problemas, os chefões sorriem manobrando a massa, para fazer vingar seu projeto de poder. Jogando uns contra os outros acuam aqueles que entendem, acertadamente, que minorar a fome e a pobreza não é generosidade de Lula ou Dilma é obrigação dos políticos que elegemos e pagamos muito bem para gerir nosso dinheiro. E, por razões óbvias, os necessitados não podem ficar eternamente dependentes do Governo. Essa dependência já foi alvo, inclusive, de crítica do próprio Lula[1];
2) A manifestação de algumas pautas conservadoras. Para um esquerdista nato a manifestação de Silas Malafaia não tem legitimidade, porque ele não é um beneficiado direto do Poder e porque acredita em coisas diferentes. Trocando em miúdos, Silas deveria ficar calado, pois do contrário fere o quanto Dilma em seu projeto progressista é magnânima! Falar de Lula, por outro lado, equivale a falar do povo. A esquerda é donatária do povo e sabe o que é bom para ele, do outro lado fica a elite [se bem que vi, e ainda vejo, tantos carros de luxo com os adesivos da petista]. De dia eles fazem o comício, se embrenham entre as pessoas e, de noite, dormem em caros apartamentos à beira mar. São intocáveis! Lula pode, por exemplo, falar que Pelotas é uma cidade exportadora de gays[2], e ninguém vai criticá-lo. É como os gays que quando querem desancar Feliciano o chamam de bicha!?
3) Igreja não tem voz. Ou não deveria ter. Entendem? Igreja não é gente, pastor não é cidadão. Fala de Bíblia, de anjos, de querubins, coisas espirituais, etc. Quantos não me lembraram disso enquanto publicava itens sobre os candidatos no meu Facebook? Fui obrigado a lembrar que pago imposto como qualquer outra pessoa, sofrerei os efeitos dos votos dos demais, vivo no mesmo País, sofro em suas estradas esburacadas, percebo a inflação em minhas compras, sou vítima dos juros altos, pressinto a manipulação da pobreza. Por essas e outras não apenas devo opinar, como me resguardo o direito de fazê-lo. Com as redes sociais a penetração é maciça. E isso não incomoda apenas aos candidatos, mas a seus defensores;
4) O renascimento do contraditório. O PT e seus associados passaram muito tempo na militância. E imaginavam que os discordantes jamais se uniriam. O resultado é que uma grande onda apoiou Aécio não porque seu programa discordasse radicalmente do petismo [a não ser no plano econômico], mas porque encarnava a mudança que esperamos há tantos anos, algo diferente. Eu votei em Lula, confesso tristemente, em seu primeiro mandato, justamente porque esperava que ele transformasse o Brasil. E ele até fez algumas coisas neste sentido, mas elevando a corrupção a um nível nunca antes alcançado na história deste País. Aí não dá! As pessoas não entendem que investir no Nordeste, por exemplo, não credencia ninguém a meter a mão na Petrobrás! Não há nenhuma relação de causa e efeito. Pelo contrário... Leiamos como o jornalista de que falei encarou o surgimento de uma militância do contra PT (grifos meus):
Durante o período que antecedeu o segundo turno eleitoral, vi como se bipolarizaram as opiniões sobre política, entre os alienados raivosos que nunca haviam militado politicamente por nada, eleitores de Aécio, e nós, os petralhas, os supostos defensores da corrupção.
Me assustei com o ódio dessas pessoas, com os argumentos desconexos, ignorantes, preconceituosos, além do desconhecimento da história e descomprometimento com a vida política do país. Fiquei apavorado com a possibilidade dos ideais dessa gente encontrarem um representante fiel.Ele não se assustou com o desvio de estimados 10 bilhões da Petrobrás. Mas com os argumentos contra a bondade de Dilma e cia ou porque surgiram pessoas que acreditavam em outro candidato e manifestavam sua opção, isso, sim, é muito grave! Em suas palavras, só pode fazer isso quem já tem uma longa trajetória de militância política. Mas, detalhe: se essa militância não for em partidos de esquerda, nem militância é! O simples ato de votar não basta. Ocorre que é esse o motor da democracia, qualquer pessoa pode ter opinião própria. Democracia a favor ou com opinião única é ditadura! Simples como 2 + 2 = 4.
Para não me alongar muito, muitos de nós colaborou com a seguinte situação: Dilma está eleita, a esquerda daquela pauta acima e tantas outras ameaçadoras vai colocar suas teses em ação e só poderemos reagir daqui há quatro anos. Eles poderão, inclusive, implementar determinadas ações contra a Igreja, destilando seu ódio outrora contido sob a ânsia de ganhar nossos votos. Ouvi de pastores pedindo votos para ela de púlpito. Olha para os pobres, ajuda o Nordeste, fez isso ou aquilo, e esquecendo o essencial: a esquerda está solapando nossa democracia! Conheço pastores que não sabem até hoje o teor do Projeto de Lei 122/2006 e do agora famoso Decreto 8.243, são presas fáceis do messianismo petista.
Então, não é porque o Bolsa Família acabaria [afinal Aécio se comprometeu em dar continuidade ao programa, do qual poderia também se beneficiar eleitoralmente mais adiante], porque o Nordeste é isso ou aquilo. Abram os olhos, eles estão fazendo a festa, enquanto muitos de nós bancam o idiota e nos digladiamos. Dilma agora diz que vai apurar as falcatruas da Petrobrás, amanhã deveríamos estar no Palácio ou em nossos Faces com frase do tipo: Ganhou? Agora vamos trabalhar! Se elegeu? Então nos preste conta!
No Brasil nós pagamos bem e damos as melhores mordomias para alguém que será nosso gerente. Ele/ela permite que sejamos roubados, omitem informações importantes [como ela fez com Cuba, que muitos inocentes babavam: FHC também emprestou, como se o sigilo da operação de agora, até para o Senado, fosse algo irrelevante]. Depois beijamos seus pés e permitimos que batam em nossa cara?
Finalizo relembrando que diversos outros jornalistas como aquele supracitado fariam o mesmo, é um método, não uma coincidência! E vamos parar com essa discussão boba, a verdade é que roubaram nossa bolsa, depois viraram para o outro lado da rua e gritaram: Pega ladrão! E ainda estamos olhando para o lugar errado...
Ps: Leio agora no UOL que Dilma vai se empenhar pela criminalização da homofobia. E o novo mandato nem começou...
[1]https://www.youtube.com/watch?v=83WUqpvddq8
[2]https://www.youtube.com/watch?v=hubUjBVo1VQ