sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Atrapalhando ou deixando vir ao Senhor as criancinhas?

Os acostumados a julgar pelo que escrevo dizem que sou amargo. Não sei, acho que estão enganados. Quem faz críticas, geralmente é julgado assim. Querer mudar o mundo choca interesses. Mas, fiquem tranquilos, não vou me suicidar tão cedo. Vamos a mais um texto crítico, mas reflexivo. A proposta do blog, desde o longínquo 2006, é essa. Se logrei algum êxito não sei. Vamos lá? Ou meus dez leitores ficaram preocupados? Hoje é sobre crianças...

Uma marca indelével de nosso tempo são as propostas e projetos contraditórios. Ao mesmo tempo em que promovemos um Congresso Infantil (e os há em profusão pelo Brasil, aliás, se faz congressos pra tudo agora...), há igrejas que não possuem um departamento infantil na estrutura do prédio!? Por isso a pergunta do post: Estamos atrapalhando ou deixando vir ao Senhor as criancinhas? Vamos por partes.

Precisa-se de uma dirigente de Círculo de Oração Infantil ou qualquer outro título equivalente? Bota aquela irmãzinha que aceitou o desafio, mas não está qualificada para o cargo! Ora, crianças são o futuro, mas que futuro há, senão pela graça de Deus, quando deixamos um departamento infantil nas mãos de alguém sem o traquejo para o cargo. Claro, claro, quem capacita é Deus, mas eu costumo dizer que há uma boa margem de segurança nas mãos dos homens. Não é contraditório dizer que o que o homem pode fazer, Deus não fará, se não estamos fazendo nossa parte!? Na Igreja se diz que amamos tudo, mas pouco de prático revelamos desse amor. É um pouco como aquele homem que bate na mulher e depois chora, dizendo que a ama!

Mas há coisa pior. O que dizer da mãe que reclama da dirigente, mas não move uma palha para ajudar seu filho a vir à Igreja? Se Joanazinha não quer ir à igreja porque vai passar a Era do Gelo na Globo, a mãe dá de ombros. É a chamada Teoria da Parede em ação. Ela consiste do seguinte: pergunte à um grupo de irmãos de qual cor deveria ser uma parede da igreja. Todos teriam alguma sugestão: verde, vermelho, lilás, azul, até, pasmem, preta! Definida a cor, pelo voto da maioria, prepare balde, pincel/rolo e tinta. Ninguém se habilita para pintar! Evidente que há pessoas que no exercício de um cargo assim não aceitam ajuda. Mas a oração é, no limite, o que se pode fazer com a menor interferência possível. Captou? Olha aí uma coisa que estamos deixando nas mãos indevidas. Em breve, até a oração Deus terá que fazer por nós!

Por falar em oração, minha mãe estava orando por seus quatro filhos vinte e cinco anos atrás. Por uma questão de timbre, todos lá em casa falam alto. Quando termina aquele período de oração, uma mãe de vários filhos foi falar. Nas suas palavras ela disse: Olha, irmãos, hoje eu aprendi uma coisa importante com a irmã Ester. Nunca tinha orado com tanta intensidade pelos meus filhos!

Na minha parca visão, parece que os pais querem tudo para seus filhos hoje em dia. Sucesso profissional e financeiro, casamento com boa herança, etc e tal, mas não estão preocupados em levar seus filhos ao Céu. Ou seja, não estão preocupados se vão chegar lá. Há, na área que trabalho, um batalhão de filhos fora da Igreja. A maioria esmagadora por culpa dos pais. Um caso emblemático aconteceu quando obriguei os pais dos adolescentes faltosos a falar comigo antes de se reintegrarem a um grupo. Eles estavam ausentes sem motivo aparente, decidi chamar os pais à responsabilidade. Uma mãe de dois filhos esperou minha chegada e despejou: Meus filhos vão se desviar por sua culpa, o senhor os suspendeu só porque faltaram quatro semanas (assim, quatro semanas...)!? Respondi que não era bem assim, a intenção era incutir a responsabilidade, etc. Ela retrucou: A pessoa vem numa agonia tremenda, meu marido não quer deixar eu vir à igreja, etc... Dois dias depois encontrei um dos filhos e perguntei: Por que seu pai não deixa vocês virem à Igreja? Ele disse: Meu pai nunca proibiu isso. Era mentira da mulher para justificar sua omissão!

Se Deus lhe desse duas, e somente duas, opções: Você quer seu filho com fama e sucesso profissional ou quer vê-lo no Céu? O que você responderia, sem pestanejar? É interessante como alguns irmãos, saudosistas de araque muitas vezes, lamentam: Oh! Como Jesus operava nas Ceias, como ouvíamos cânticos espirituais, como Jesus curava, batizava. Como as irmãs usavam menos maquiagem, eram menos vaidosas. Mas há poucos que dizem: Como os filhos acompanhavam os pais!?

Na EBD, na Doutrina, nos demais cultos chave a rotina se repete. Por puro diletantismo, os pais que não gostam dos tais, se omitem de enviar os filhos. Na melhor das hipóteses eles vêm e depois desfilam um rosário de defeitos. Quem não lembra dos pais que castigavam seus filhos fazendo-os ler a Bíblia? Ou cantando hinos da Harpa? Era algo ruim a se fazer por algum malfazejo? O que dizer dos pais que falam cobras e lagartos dos líderes eclesiásticos, como quem fala de Hebe ou Ana Maria Braga?

Mas há a culpa da Igreja, sim, não podemos fugir disto. Estrutura ausente para departamentos infantis, salas com precariedade de investimento. O professor, por vezes, não tem um lápis de cor, um quadro. O que dizer dos cultos que só agradam aos adultos? Na música é só o lêlêlê de Aline, que agora virou princesa do reino de Deus ou então de Valadão. Aliás, estas senhoras que querem ser crianças quando cantam, só infantilizam um negócio sério. Eu me lembro de um grande músico que deixou tudo aqui em Pernambuco, para ir a outro Estado a convite de uma Igreja para cuidar, exclusivamente das crianças do ministério da música. Salário, casa, comida e roupa lavada só para isso? Só? Não! A igreja estava cuidando do futuro! Eu assumo a parte que me cabe, no que tange a não me esforçar o bastante no quesito.

Para não me estender muito, algumas perguntas básicas. Quanto sua igreja seria capaz de investir num curso preparatório para sua professora de EBD ou para sua dirigente? Quanto foi investido este ano (estamos em outubro) em recursos audiovisuais para o departamento infantil, se é que ele existe em sua congregação? O departamento que existe é amplo, acolhedor e confortável? Os envolvidos sabem utilizar os recursos audiovisuais à disposição? Há um maestro efetivo para ensinar os rudimentos musicais às crianças ou apenas uma irmã jeitosa que cuida deste aspecto? Há um acompanhamento do aprendizado infantil na EBD?

Se em boa parte deste texto você sentiu o chão sumir abaixo dos pés, provavelmente, você está apenas atrapalhando as crianças de vir ao Senhor.

Um comentário:

Márcio Melânia disse...

Mais uma vez, você tem ensinado aos crentes a pensar!

Parabéns pela excelente digressão.