domingo, 24 de março de 2013

A EBD é uma escola de profetas, hoje?

Meus dez leitores hoje a lição é sobre as escolas de profetas. Se estiverem afim de ler um texto longo, vamos lá. Há indicações de que tenham funcionado em Gibeá, Gilgal, Ramá, Betel e Jericó. Eram instituições de mentoria, treinamento, despertamento e identificação de talentos. A nata dos professores geria e ensinava em tais lugares. Com razoável probabilidade gravitavam ao redor de escribas e especialistas da Lei. Sobretudo, porém, eram lugares de demonstração prática. Não, não, eram nenhuma Hogwarts, aonde os Harry Potters de Israel aprendiam mágica. Aprendiam a servir a Deus! Ser profeta não era essa vida de oba oba que ouvimos e lemos hoje em dia. Esse negócio de profetizar para os irmãos nos bancos não casa com a vida diária dos tempos bíblicos.

Aí, perguntamos: A EBD é uma escola de profetas, hoje?

A pergunta é pertinente porque é a assertiva que o comentarista quer nos fazer crer. Eu poderia aderir a ela sem percalços, se não conhecesse um pouco o funcionamento estrutural de nossas EBDs. Depois, ele estende sua abordagem a seminários teológicos e afins. A premissa, apesar de interessante, rui facilmente.

Pra começar há o fator Brown x Smith x EBD. É uma conhecida história, espalhada hoje em muitos blogs sobre a lição. Resume-se ao seguinte: Sendo Mr. Brown um executivo ele não selecionaria alguém para um cargo em sua empresa, senão com um currículo exemplar. Mas o mesmo senhor sendo um dirigente de EBD selecionaria qualquer pessoa como professor, baseado apenas na necessidade e na disponibilidade. Tal padrão acarreta termos, por vezes, pessoas despreparadas à frente das classes.

Algumas considerações precisam ser feitas antes de prosseguir:
a) Para a empresa, Mr. Brown está pagando. Na EBD o trabalho é voluntário. Não há como exigir sequer que os alunos venham;

b) O quadro que temos hoje é que pessoas preparadas simplesmente não querem ser professores de Escola Dominical. Por conveniência, pois já passam a semana à frente de classes seculares. Por falta de compromisso, por preguiça e por várias outras razões, profissionais preparados pedagogicamente não estão disponíveis na maioria das igrejas;

c) Poderíamos, neste quesito, nos socorrer dos seminaristas. Boa parte deles, porém, acha raso o assunto da lição, não quer o compromisso de assumir uma classe e prover alimento espiritual semanalmente ou, simplesmente, não quer. Deveria ser obrigatório que seminaristas assumissem cargos em geral nas igrejas, ainda que de menor monta, mas, especialmente, no ensino. Normalmente, as igrejas os deixam à deriva. Uma entrevista básica de admissão num seminário deveria ser algo assim:

- Prezado, o senhor desempenha algum cargo em sua igreja?
- Não, nem quero, sou muito humilde...
- Então, o senhor não pode estudar conosco.
- Mas, eu gostaria...
- Se o senhor quer, a condição é estar envolvido com algum trabalho em sua igreja. Comece pela EBD. Vamos contactar seu pastor para saber como vai seu envolvimento lá...

Muitas aulas inaugurais de turmas em seminários são desanimadoras. O mantra é: - Vocês não estão aqui para serem pastores... O que se quer não é despertar profetas, mas desnortear ânimos. O resultado desta omissão é que os seminaristas se formam, e se tornam meros corretores das pregações e do que se diz nas igrejas a partir do banco. Não se engajam com os trabalhos mais difíceis, não se envolvem nos trabalhos em geral. Atraindo, apropriadamente, a ojeriza dos demais membros para os teólogos e para a teologia.

É o caso das irmãs. As admitimos em nossos seminários teológicos, passam por, absolutamente, todas as matérias (que ninguém é burro de fazer um currículo seletivo), muitas delas se destacam nas notas, etc. No fim das contas pra que servirá este aprendizado? Aprimorar o crochê!? Mal tem oportunidade ao púlpito. Pra quê aprenderam homilética, se não iam pregar? A esquizofrenia é tal que podemos ter professoras de seminário, mas não dirigentes de EBD! Por que então ensiná-las Administração Eclesiástica? Para administrarem seus lares?

Em seguida, propomos uma questão crucial: Onde estão os líderes no domingo pela manhã? Pastores, evangelistas, presbíteros, diáconos, dirigentes via de regra estão descansando. Enquanto se pede que a igreja vá à EBD. Notem que não estou generalizando, mas, observem a frequência de tais pessoas e chegaremos a conclusões alarmantes. Como iniciativa prática, nas igrejas que auxiliamos temos uma caderneta especial com o nome de todos líderes, mais dirigentes de evangelismo e auxiliares locais. Se eles não podem vir à EBD, os demais não virão! Depois não reclamemos de quão ocas são as prédicas.

Por fim, para não me estender que o tempo é curto, temos a questão intestina da estrutura da EBD. Acha-se dinheiro para fazer um aniversário de um orgão, mas não para comprar quadros. Tomemos um pequeno convite de R$ 2,50, multipliquemos por 50 e temos: R$ 125,00. Algo que poderia ser feito num pequeno ofício e copiado a R$ 0,10! E olhem que esse convite será jogado no lixo em poucos dias. Gasta-se R$ 1.000,00 facilmente num evento, mas não se vê como investimento a doação de lições para os menos favorecidos. A compra de material pedagógico é um fardo para muitos líderes, mas se gasta muito dinheiro em festas e comemorações. Algo que passa e precisa ser repetido todos os anos. Já o ensino tem repercussão eterna.

E eu nem falei da ausência de salas adequadas em muitas igrejas...

Abaixo o link de um e-book nosso sobre Jonas, que aborda alguma das funções das escolas de profetas.


Um comentário:

Pastor Geremias Couto disse...

Como um de seus "10 leitores", é o que vejo por onde passo, ministrando na área da educação cristã, com as devidas exceções, é óbvio. O quadro é este. Esse é um texto que deveria se pregado nas portas das principais "catedrais" assembleianas e gritado em todo o Brasil!

Abraços!